À princípio, este Docas de Nova Iorque incomoda muito por se assemelhar demais de tramas típicas de contos de fada. Ainda mais por se tratar de um filme de 1928. É por isso que a produção de Joseph von Sternberg é tão eficiente. A expectativa é quebrada pelos questionamentos dos personagens e pelas dúvidas das intenções de cada um.
É fácil esperar algo como uma comédia romântica da história do foguista de navio Bill Roberts (George Bancroft) e da pedinte suicida Mae (Betty Compson) na zona portuária de Nova Iorque. Em uma parada de um dia da embarcação em que trabalha, o brutamontes protagonista salva a mocinha das águas da cidade e promete dar para ela uma nova razão para viver se ela o acompanhar.
Durante a primeira metade, que se passa durante a noite em que se conhecem, todos os outros personagens em cena tentam alertar os dois de que o romance é uma ilusão tola. Ela é avisada que ele vai abandoná-la no dia seguinte. Ao mesmo tempo que ele escuta constantemente que ela não vale nada e é um desperdício de tempo para ele.
Seriam fofocas vazias se fosse de fato um romance comum, mas a intenção de Sternberg é levantar essas questões de verdade. Porque Bill talvez só tenha proposto a aventura para ter uma chance de sexo casual, da mesma forma que Mae pode querer apenas uma fonte de renda.
Cinismo é a palavra de ordem aqui. E é justamente o que faz com que seja tão relevante ainda hoje, quando as pessoas parecem precisar das ilusões de romances para sentir segurança em um mundo de desilusões. Veja abaixo. [youtube=https://www.youtube.com/watch?v=2R8iZTb9rtQ]