Quarto filme do Griffith da lista. Metade dos filmes foram dele até aqui. Já comecei com um pé atrás. Depois do que provavelmente foi uma das obras mais racistas do cinema, de um desperdício inacreditável em um filme ambicioso demais e do flerte com pedofilia, estava com medo do que encontraria aqui. Mas que surpresa gostosa foi Inocente Pecadora.
Griffith era um diretor interessante. Começava seus filmes com textos explicando a moral por trás da produção. Aqui ele me enganou. O discurso tratava de valores cristãos e contava com frases como “O homem é feito para a mulher”. Para um homem ateu que está um tanto quanto irritado com homófobos recentemente, esse não é um começo convidativo.
Anna Moore é uma garota pobre que vive na Nova Inglaterra, cidade do interior dos Estados Unidos. Ela se muda para a casa de familiares ricos em Boston para pedir ajuda financeira. Então é conquistada por um galanteador amigo das primas e sua vida se transforma em desgraça.
A regra desta produção é o melodrama. Realmente, as coisas que acontecem com a pobre Anna são comparáveis a novelas mexicanas. Mas vale ter em mente o seguinte, melodrama não é igual a falta de qualidade. Se for uma linguagem usada de forma correta, o melodrama é muito bom.
A grande surpresa é que Inocente Pecadora é, na verdade, um filme feminista. Falando assim pode parecer ruim, mas pare para pensar primeiro que é um filme de 1920. Feminismo naquela época é algo impressionante. Viver naquele tempo devia ser horrível.
Griffith almeja expor as condições de vida das mulheres. Suas expectativas eram bem claras, crescer bonitas, casar virgens e ter filhos. Enquanto isso, se esperava dos homens conquistar e aproveitar de mulheres antes de encontrar uma esposa virgem para realizar um casamento por motivos políticos.
Se a mulher não casar, tiver filhos fora do casamento ou qualquer coisa do tipo, era tratada como pária, criminosa ou coisa pior. É interessante que justamente o homem que nos deu O Nascimento de uma Nação tenha resolvido mostrar como esse preconceito é incoerente.
Anna é essa pária, criminosa e pecadora que é, na verdade, uma vítima. Foi enganada para ir para a cama, então é despida de dignidade e orgulho por toda a sociedade.
Griffith parece ter alcançado seu ápice neste filme. Inventou a narrativa cinematográfica clássica antes, mas foi aqui que alcançou seu primor técnico e narrativo. A fotografia impressiona e a montagem tem um ritmo que deixa muitos filmes atuais no chinelo. O clímax em um rio congelado é impressionante. Estava assistindo ao filme e me questionando como aqueles takes foram feitos com a tecnologia da época.
A Lillian Gish volta a trabalhar com Griffith. Que atriz! Mesmo em um filme mudo e melodramático ela é expressiva sem ser exagerada. Gish era dona de uma beleza clássica, com um daqueles rostos que você seria capaz de ficar observando por muitas semanas. Como a Carey Mulligan é atualmente.
Um dos filmes mais legais dessa lista até o momento. Assista abaixo no player do youtube. [youtube=http://www.youtube.com/watch?v=MgYA4jUr4o0]
ALLONS-YYYYYYYYYY…