Dizer que existe megalomania nos métodos de trabalho de alguns diretores é quase uma piada. Desde Griffith, que se meteu a fazer um cenário de dois quilômetros de comprimento cheio de figurantes até Coppola, que ficou chateado com um exército por não ter levado helicópteros para uma gravação durante um conflito. No meio do caminho, existiram pessoas como Abel Gance, que fez este Napoleão em 1927.
Na verdade, é o que faz com que a cinebiografia do conquistador francês ainda seja admirada atualmente. Gance fez uma epopeia de 222 minutos (3 horas e 42 minutos) em que não existe economia. Mesmo na infância de Napoleão, quando ele cria uma vitória estratégica do personagem em uma batalha de neve com uma montagem vertiginosa que sobrepõe inúmeros planos de violência entre crianças com o olhar do jovem Bonaparte triunfante.
Mas Gance vai além ao colocar as câmeras em tudo quanto é canto, como uma guilhotina ou amarrar o cinegrafista em um cavalo. O resultado é um filme com uma estética única. A montagem picotada parece com sobreposições complexas do Cinema Revolucionário Soviético, enquanto os enquadramentos extremos lembram das invenções de Sam Raimi.
Mas o mais interessante é uma técnica que Gance usou para filmar a grandiosidade dos exércitos de Napoleão. Na época, a película era limitada ao formato 4×3, aproximado de um quadrado como nas TVs antigas. O diretor usou três câmeras uma ao lado da outra e depois usou três projetores ao mesmo tempo para fazer com que a imagem ficasse mais larga. O método seria formalizado cerca de 40 anos depois quando foi chamado de cinerama.
Mais um filme impossível de encontrar no youtube. Felizmente, ele está dividido em quatro partes no site dailymotion.