René Clair reaparece na lista dos 1001 Filmes com mais este musical, desta vez adaptado de peça de teatro. Se no anterior, o diretor francês mostrou pioneirismo até em relação ao mestre Charlie Chaplin, aqui ele revela algo surpreendente para 1931: perfeição técnica.
Nem é preciso ir longe. Logo no plano de abertura, Clair sai de um momento íntimo entre dois amantes para fazer uma panorâmica horizontal sobre telhados que mistura sets reais e maquetes. Na época, a técnica requeria um maquinário e perfeccionismo que apenas dão o tom do resto da produção.
É na história do pintor pobre e endividado Michel (René Lefèvre), que ganha na loteria e sai na procura do casaco em que deixou o bilhete, que o filme é simplório. Não há mensagem cultural, política, ou como for. É apenas uma comédia de situações.
E como está claro no próprio livro, O Milhão faz parte da lista pelo desbunde técnico. Clair conduz um filme divertido porque o ritmo é impecável. O humor é engraçado e a história prende a atenção com os enquadramentos, os movimentos de câmera, a montagem, o uso das músicas para criar transição e falar sobre as psiques dos personagens.
Infelizmente, é um dos filmes mais difíceis de achar da lista até agora. Ele está disponível em festivais e pode ser comprado na coleção da Criterion, empresa que tem feito trabalhos de remasterização perfeitos de produções clássicas.