A história de Joana D’Arc é uma das que mais dá preguiça. É um registro de um dos períodos mais ignorantes e sombrios da humanidade, que queimou uma garota de 19 anos numa fogueira porque ela, seja santa ou alucinada, questionou e fez o povo olhar feio para os homens que estavam no poder.
Ou seja, é muito do que se vê ainda hoje no mundo. Mas talvez o que mais incomode na Joana D’Arc é a adoração a uma pessoa que se tornou famosa por ter visto Deus em meio a uma guerra na era medieval. Especialmente neste filme de 1928, quando ela havia sido canonizada recentemente e a Primeira Guerra Mundial era uma lembrança amarga para os franceses.
Isso porque a produção é praticamente uma adoração à santa. Ela é retratada sempre com a câmera por cima, o que a torna pequena. Enquanto isso, os homens que a julgam são filmados de baixo para cima. Os posicionamentos fazem com que ela seja uma vítima de um sistema injusto e cruel, o que aconteceu de verdade. O problema é quando o filme a revela como alguém que realmente dialogou com Deus.
Mas o que realmente importa aqui é que se trata de uma obra com muitas quebras de estéticas do cinema. O cenário minimalista chega a parecer de madeirite e papelão. Mas Carl Theodor Dreyer, o diretor, foca em closes. É quase claustrofóbico, de tão fechado. A intenção é realçar a dor e a injustiça. O que funciona muito bem.
Ele também usa os relatos do julgamento de Joana para fazer o roteiro. Por conta disso, o filme foi considerado quase como um documentário na época. O que é absurdo, mas serve para dar uma nova visão sobre o evento. Mesmo as atuação sejam melodramáticas e os enquadramentos tendenciosos, as falas são as das pessoas reais.
Enfim, é uma obra interessante pela cinematografia que cria ambientação pela interpretação dos atores (por mais que sejam maniqueístas), e não pelos conceitos habituais de filmagem. Assista abaixo, com legenda em inglês. [youtube=https://www.youtube.com/watch?v=VlI3hmI89bw]