A lenda dos 47 Ronin é uma das mais significativas da história do Japão. País de tradições rígidas e cultura muito diferente, tem na lenda do sacrifício dos 47 samurais sem mestre um dos exemplos fundamentais do Bushidô, código de conduta dos samurais. Pouco se sabe do quanto a lenda é real e fictícia, mas a história inspira japoneses ainda hoje e finalmente ganhou uma versão ocidental.
Após a morte do senhor do feudo que protegem, samurais se tornam ronins e são banidos de suas terras. O líder foi aprisionado por um ano até ser solto. Agora ele planeja reunir o grupo para conseguirem a vingança e seu senhor possa descansar em paz.
A versão americana certamente não é a primeira a tratar da lenda. Acredita-se que surjam pelo menos uma adaptação da história a cada dois anos no Japão. Nem todas em forma de filme. O que o novo filme faz é tentar mostrar um pouco da cultura do país com um tanto da visão ocidental.
Para a realização, nomes asiáticos que fizeram sucesso no cinema norte-americano foram reunidos com a adição do Keanu Reeves. A proposta é focar nos valores do Bushidô que guiaram aqueles homens. Mas nada de realismo, a história se passa em um Japão fantástico, com demônios, feiticeiras e seres mágicos da floresta. Todos seguindo conceitos da cultura mitológica do país.
Então a produção toma liberdades na construção do mundo. A direção de arte constrói os feudos e as paisagens acrescentando aqui e ali imagens relacionadas às mitologias. Os feudos representados possuem cores diferentes que expressam características diferentes. Cada peça de roupa usa bases tradicionais japonesas com detalhamentos inventivos que acrescentam aos personagens e à realidade um pouco de fantasia.
O resultado são imagens lindas. Carl Rinsch estreia na direção de longa-metragens criando enquadramentos que exploram a beleza da mistura de cores com as maravilhosas cerejeiras soltando pétalas para todos os lados. O 3D realça tudo sem ser invasivo.
O Keanu Reeves é um profundo adorador da cultura japonesa e não tem problema em participar em um papel secundário. Apesar do que o marketing do filme tem vendido, o protagonista é interpretado pelo Hiroyuki Sanada. Sanada é um grande ator e aproveita bem a chance de se mostrar aqui. Ele enche o Oishi, líder dos samurais, com carisma e conflitos identificáveis.
É claro que o estúdio cobrou maior presença de Reeves na tela, mas ele não rouba a cena de Sanada e ainda serve de degrau para que o personagem do ator japonês ganhe destaque. A presença de Reeves garantiu orçamento para que o visual fosse incrementado com efeitos visuais gerados em computador. Com eles, aranhas, dragões e touros gigantes ganham vida. Todos com a variação de cor que segue o padrão do filme.
O problema é que os efeitos computadorizados tem as texturas um pouco mal trabalhadas. Apesar da excelente animação por trás, é impossível não notar que diversos dos elementos parecem falsos.
A montagem atrapalha bastante o ritmo. A história é tão rica e cheia de detalhes que o filme iria requerer mais tempo para a construção. Infelizmente, o estúdio nunca aceitaria algo muito maior que as duas horas de duração. Então os realizadores são obrigados a picotar o negócio, o que diminui bastante a qualidade da produção.
As cenas de ação são muito bem realizadas, apesar da montagem as fazer ficar um tanto confusas. Elas ainda enchem a tela com beleza e os momentos fantásticos envolvendo lutas com os efeitos especiais conduzem bem o espectador.
Mas o que mais acrescenta ao filme é a coragem de realizar o final, que segue os valores exatos do Japão. Nada de heroísmo, felicidade fácil ou resoluções sem sentido. O único erro desta parte é se estender demais. São várias cenas consecutivas que poderiam ter sido cortadas.
47 Ronins é uma bela homenagem a uma cultura diferente da qual todos podem aprender alguma coisa. Recomendadíssimo.
FANTASTIC…
eu estou ansioso para ver esse filme.