Em certo ponto do curso de pós-graduação sobre história da linguagem cinematográfica no Brasil, o professor foi bem claro: “Um livro sobre história do cinema só é bom se tiver uma parte sobre Cinema Novo e Limite, do Mário Peixoto.” Pode-se dar algum valor, então, para a listas dos 1001 Filmes para Ver Antes de Morrer, com a presença deste primeiro brasileiro do livro.
A história é um fiapo. Dois homens e duas mulheres encontram-se à deriva em alto mar. A montagem de Peixoto sobrepõe enquadramentos para sugerir a narrativa não linear, uma vez que eles se lembram, enquanto observam a água, do passado recente individual.
Não há diálogos ou grandes explicações, fica tudo por conta dos símbolos e dos cortes. E da subjetividade do espectador. Algumas coisas ficam óbvias, como o fato de que uma mulher é ex-presidiária. No entanto, é uma jornada “sensorial”, feita para que cada pessoa tenha uma experiência individual.
Para isso, o trabalho de Edgar Brasil, o diretor de fotografia, é primoroso. Mesmo com pouquíssimos cenários e a baixa tecnologia de então, ele cria imagens belas e simbólicas, que competem com coisas atuais, que nem Roma. Lento, difícil, abstrato e bonito.
Abaixo uma restauração com o que sobrou das películas originais.