Dando continuidade ao meu trabalho sobre Era Uma Vez no Oeste. Ontem eu coloquei a parte sobre minhas primeiras impressões e a estética. Hoje é a vez de falar um pouco sobre a linguagem. Já havia falado um pouco sobre a coragem de subverter algumas regras, mas agora o foco vai ser mais nesta parte.
“Para criar a narrativa, Leone usa de planos longuíssimos, fazendo com que suas cenas sejam tão longas quanto. Mas o filme não se torna enfadonho porque é através desses planos que ele apresenta as histórias.
A abertura do filme dura 14 minutos, só para apresentar o personagem do Charles Bronson, que é conhecido no filme apenas como “Gaita”. A forma como Leone cria suspense através dos cortes e dos movimentos de câmera é impecável. Os três pistoleiros que protagonizam essa cena praticamente não têm fala, e ainda assim, muita coisa é dita sobre eles. A câmera aproveita o espaço para ir revelando o ambiente aos poucos com tridimensionalidade. E as ações nunca são óbvias. Um dos personagens descobre estar embaixo de uma goteira, então ele simplesmente coloca o chapéu de volta na cabeça deixando a água cair em seu figurino. Só depois de vários planos é que descobrimos porque ele não saiu debaixo da goteira.
O filme inteiro segue dessa forma. O motivo pelo qual aqueles homens foram até aquela estação de trem só vai ser explicado depois de mais ou menos uma hora de filme, em outro contexto. A razão pela qual o Gaita quer um duelo com o Frank, personagem interpretado por Henry Fonda, só é explicado na antepenúltima cena do filme.
Depois da abertura o filme mostra uma família sendo chacinada por Frank. Em seguida, mostra a mulher dessa família chegando à cidade de trem. Outra cena apresenta o personagem Cheyenne, alívio cômico do filme. Em sequência, a revelação para a mulher da morte de seus entes. Só então, na próxima cena, revela-se porque a família foi morta aproximadamente meia hora antes.
O filme vai se desdobrando e revelando aos poucos, com um suspense incomum ao cinema clássico. Para entendê-lo completamente, é preciso chegar ao final. Por outro lado, o filme não esconde ou deixa nada para o espectador imaginar. Gaita poderia ser um personagem com muito mais significância se não fosse a preocupação em explicar o por quê de ele estar perseguindo Frank. Porém, até o final todos os detalhes serão explicados.
O filme explica cada pequeno detalhe da trama.
É uma mistura do que foi chamado de cinema moderno com o cinema clássico. Leone faz um filme sutil que exige sensibilidade do espectador. Não se rende a soluções simples e evita ser óbvio, forçando a prestar atenção a todos os detalhes. Ao mesmo tempo em que é um filme redondo, sem pontas soltas. Ainda que revelador demais. Não existe um espaço para uma introspecção de quem o assiste. Como a maioria dos filmes que seguem o padrão tradicional fazem”
ALLONS-YYYYYYYYYY…
1 comentário em “A linguagem de Era Uma Vez no Oeste”