Um dos problemas com a arte é que ela é ancorada no tempo em que é produzida. Então, mesmo obras-primas clássicas conseguem sentir envelhecidas. Este M: O Vampiro de Dusseldorf é mais um desses casos. No entanto, os detalhes que o faziam ser à frente do tempo dele na época em que foi feito ainda saltam aos olhos.
Fritz Lang, um dos maiores nomes do cinema alemão, e um dos mais importantes do movimento expressionista do país, narra a busca quase psicótica da população de Dusseldorf quando crianças começam a desaparecer. O assassino manda cartas para a polícia e para a imprensa para avisar que não vai parar, e todas as ramificações da sociedade parecem se organizar em desespero.
O que faz com que este filme seja tão interessante é justamente isso. A história cerca um assassino de crianças, mas ele (vivido com angústia pelo ótimo Peter Lorre) não é o grande vilão de um suspense criminal. Muito pelo contrário, ele é um homem pervertido e incapaz de se controlar. Isso enquanto balança as estruturas sociais.
Mulheres se desesperam com os filhos nas ruas, qualquer interação com uma criança é vista com suspeita acerca dos adultos. A polícia, com mãos atadas, passa a fazer buscas pesadas em áreas de crimes, o que atrapalha esquemas mafiosos e corruptos. E a ânsia por justiça (vingança) da população se encontra exatamente em cima daquela tal linha tênue do criminoso.
E Lang, sabiamente, faz questão de apontar como as pessoas se tornam tão monstruosas como o monstro que querem matar e de quem querem se vingar. Infelizmente, o ritmo rápido e inteligente do filme hoje parece lento e cansativo diante de tantas obras psicológicas de crimes mais frenéticas atuais. O que não muda o reflexo correto que ainda permanece atual numa sociedade que busca “direitos humanos apenas para humanos direitos”.
Diga-se de passagem, no expressionismo alemão, esses pensamentos sobre psicose e paranoia sociais eram resultado de uma sociedade no pós guerra. Essas filosofias que Lang critica ferrenhamente com o filme levariam ao nazismo no país.