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O Shaolin do Sertão (2016)

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Eis que eles atacam novamente. A dupla criadora da pérola Cine Holliúdy formada pelo diretor Halder Gomes e pelo comediante Edmilson Filho volta a colocar o âmago do Ceará nos cinemas com mais um filme que usa os costumes do estado tanto para fazer rir quanto para criar ambientação. Mais uma vez, a sacada é mostrar como o jeitinho brasileiro usado para sintetizar os “gringos” podem ser tanto cômicos quanto ricos da própria maneira.

Dessa vez, ao invés de focar em um momento específico da história das cidades de interior do Ceará, o tema é uma situação praticamente impossível. Aluisio Li (Filho) é um padeiro pobre fascinado com a cultura das artes marciais chinesas. Fraco, sem habilidades e apaixonado por Anésia Shirley (Bruna Hamu), filha do Seu Zé (Dedé Santana), dono da padaria, Aluisio vive apanhando dos conterrâneos que tiram vantagem dele. Quando o famoso lutador Toni Tora Pleura (Fábio Goulart) anuncia que vai passar pela cidade, Aluisio se oferece para enfrentá-lo em nome da população e recebe um incentivo para fazer um treinamento apropriado.

A proposta técnica, visual e cômica é exatamente a mesma do filme anterior de Gomes. A estética remete ao padrão de qualidade de produção da lendária Shaw Brothers, que fez centenas de filmes de wuxia de baixa qualidade e divertidíssimos. Mas com a qualidade de equipamentos do cinema digital atual. As piadas seguem o mesmo estilo do choque do padrão quase ignorante do nordeste com a exuberância do que vem do “exterior”.

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A grande luta. Até o palhaço reflete a breguice na cópia do que vem de fora do Brasil.

Infelizmente, a fórmula não funciona tão bem aqui. Em grande parte porque Cine Holliúdy era uma declaração de amor ao cinema como um todo. Aqui, é apenas uma piada construída em cima da jornada de um homem supostamente ridículo que prova o valor dele. A criação técnica não remete a estilos, apenas é pobre.

Halder Gomes não se preocupa em construir a linguagem especificamente do cinema. A fotografia apenas preenche tudo com luz em todos os planos. Não há uma razão para isso, mas é possível sempre ver um brilho nos contornos dos personagens em todas as cenas de interior. Como se um holofote os iluminasse por cima. É uma técnica bastante específica do cinema preto e branco que é usada por diretores que não se importam com jogos de sombra. Apenas querem que tudo seja visível.

O mesmo pode ser notado na construção da montagem. Gomes não dirige as cenas com planejamento de cortes e transições. Às vezes um momento de humor muito forte muda drasticamente para outro muito triste. O choque sem cuidado estraga o que deveriam ser as duas emoções. A piada se perde, assim como a tristeza não tem tempo para tocar o espectador de forma adequada. Um dos mais incômodos de todos é em um momento quando Aluisio está bêbado. Numa hora ele grita na rua impropérios feitos claramente pra fazer rir. Corta para casa com ele triste e desiludido enquanto quebra os móveis. São duas cenas que não se encaixam.

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Treino com o Falcão. Características típicas do Ceará para elementos internacionais.

Por outro lado, Gomes é ótimo para recriar um ambiente tipicamente cearense. Deve ser algo quase natural, mas ainda exige talento técnico. Em grande parte por conta do roteiro, que usa e abusa de falas inesperadas típicas da região. Outra grande parte pelo ótimo trabalho dos atores. Naturais do estado, eles sabem interpretar os estereótipos sem cair em grandes exageros. Gomes acerta ao saber dar destaque para eles quando a fala é particularmente engraçada. Surgem momentos inspirados, com falas memoráveis. A mais repetida depois da sessão foi “Ele quer te matar. Morre antes, pra não dar esse gosto”.

O texto de L. G. Bayão também acerta na estrutura usada para contar a história de Aluisio. O enredo é claramente sugado de um filme de luta padrão. O protagonista aprende a crescer como pessoa à medida em que evolui como lutador para um grande desafio final. Aqui é um pouco diferente. Aluisio cresce com o desenrolar da trama, mas nunca vira um grande mestre. Ou pelo menos fica o mais avançado que se pode ficar dentro da ideia de um mestre Shaolin do interior do sertão.

A direção de arte é ótima. Tudo na cidade, das roupas aos ladrilhos usados para cobrir as paredes, exibe a breguice visual do brasileiro. São camisas sociais cheias de estampas abertas no peito com colares metálicos imensos e cabelos lambidos. Enquanto Aluisio repete o número de cores, mas com cortes roubados diretamente da cultura chinesa, da qual tem pouco conhecimento.

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Filho com Igor Jansen. O menino rouba a cena.

Filho tem um estilo de interpretação cada vez mais raro. Com dança, pulos, piruetas, chutes e expressividade que vão além do rosto. É fundamental para um personagem que tenta aprender kung-fu, mas os movimentos são únicos dele. De resto, só se destaca o garoto Igor Jansen como Piolho, amigo de Aluisio. O jeito quase natural de reagir aos estapafúrdios em que o protagonista se mete é hilário.

O Shaolin do Sertão é um ótimo filme com o estilo do Cine Holliúdy. Infelizmente, ele sofre exatamente de não ter uma individualidade. Usar a linguagem de uma obra com uma proposta diferente gera pequenos problemas. Não arruína uma ótima comédia (uma raridade no cinema nacional). E que venha mais de Gomes e Filho.

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