Lembro que na época do lançamento de O Preço do Amanhã toda crítica que li sobre o filme dizia a mesma coisa, “tempo é dinheiro”. Eu odiava, todo crítico usando sempre a mesma expressão. Agora que finalmente assisti o negócio, estou preso à regra. Qual o conceito de O Preço do Amanhã? “Tempo é dinheiro”.
Parabéns a todos os envolvidos.
A história se passa em um futuro muito distante no qual a humanidade conseguiu se tornar imortal. Ou quase. Quando uma pessoa atinge os 25 anos de idade, seu corpo pára de envelhecer. Ou seja, pode viver eternamente com o mesmo rosto, a mesma juventude. Mas essa tecnologia vem com um preço. A partir do momento em que uma pessoa chega aos 25 anos, um relógio se inicia no seu antebraço.
O relógio marca o tempo restante de vida. Anos, meses, dias, horas, minutos e segundos. Dinheiro é algo que não existe mais. Para que uma pessoa aumente seu tempo de vida precisa ganhar, como fazemos com dinheiro. A pessoa trabalha e ganha tempo como pagamento. Anda de ônibus e precisa pagar horas. Compra comida com dias.
Logo, “tempo é dinheiro”.
O conceito é interessantíssimo. E o diretor e roteirista por trás é o Andrew Niccol. O mesmo cara que fez Gattaca e A Hospedeira. Por isso mesmo imaginei que se trataria de uma ficção-científica inteligente. Mas não é.
A história acompanha o personagem Will Sallas, interpretado por um Justin Timberlake completamente maníaco. Will é pobre e vive com sua mãe, interpretada pela Olivia Wilde. Como integrante dessa parte da população, tem que se virar para nunca perder a vida. Está sempre no limite de seus dias e sempre dando um jeitinho.
Um dia, Will cruza caminho com um homem perseguido por ladrões de tempo. Após ajudá-lo, o indíviduo se revela um homem extremamente rico, que está vivo a milhares de anos e que está cansado. Pela riqueza, o cara consegue viver praticamente eternamente e em seu contador ainda sobram séculos.
Preparado para morrer, o homem milenar passa para Will seus séculos e se entrega para o descanso eterno.
Uma boa história para este universo rico. Mas é justamente aí que vai tudo por água abaixo. Ao invés de termos analogias sociais com Will vivendo através dos tempos e alterando aquela terra com sua influência e visão diferenciada de mundo, o filme vai pra todo lugar.
Menos de dez minutos depois, Will está de volta com algumas horas de vida, o melhor amigo morreu, uma refém a tira-colo, a polícia do tempo o persegue, assim como os bandidos. Parece muito rodeio só com isso, mas o filme dá outra reviravolta, e depois outra e outra. Vira uma loucura.
Parece que o diretor não consegue se focar. O tempo inteiro tem que explorar alguma analogia bisonha sobre tempo é dinheiro. Não pára. Will vai pra cassinos, depois mostra como fazer uma aposta pessoal, depois mostra como roubar pessoas na rua.
De repente, Will vira um Robin Hood. E a garota que sequestrou virou par romântico. Os dois ficam assaltando bancos e distribuindo tempo de vida para todo mundo. E o filme se revela. Uma propaganda de socialismo. Das mais burras e mal feitas.
Como os ricos são malvados por não dividirem sua fortuna com os necessitados. Como a divisão de bens na sociedade é maravilhosa e vai salvar o mundo. Como as pessoas pobres e necessitadas são todas coitadas e merecedoras de boa vontade.
A ambientação é tão ruim que parece piada. Se a história se passa milênios no futuros, porque todo mundo usa estilização dos anos 2000? Por que os carros ainda são movidos a gasolina e têm visual da década de 1980? Por que o único avanço tecnológico são os timers nos braços das pessoas?
As pessoas mantém o físico a partir dos 25 anos. Então a mãe de Will aparenta a mesma idade que ele. Mais um conceito interessante que é mal explorado.
E tem também a pior parte. As mortes. Quando o relógio de alguém zera, as mortes são tão ridículas que é impossível segurar o riso. Não consigo nem explicar. Sempre que alguém morre por essa razão, abre espaço para fazer piada.
Dói ver um elenco tão bom desperdiçado em uma história tão besta. Sem contar com o nome do diretor/roteirista. Vale a pena para recomendar para os inimigos. Ou pelo menos para dar umas risadas com amigos.
ALONS-YYYYYYYY…
Olha, eu ignorei as falhas e vi este filme como entretenimento besta, mas realmente, pelo ponto de vista analítico, deixou bastante a desejar.. Tinha muitas opções pra fazer o filme nota 10, e mesmo se fosse explorar a questão do socialismo e tentar vender isso, poderia ter sido feita de maneira melhor… independente, curti o Justin e achei uma premissa interessante… se tivesse um livro neste mundo eu seria a primeira a querer ler 😀