O gênero romance é um dos mais complicados atualmente. Os romances mais inteligentes de antigamente costumavam usar os mesmos elementos dos de hoje. Mas os diretores tinham nomes como Howard Hawks e Billy Wilder. Hoje são diretores de aluguel cuja capacidade de direção pode ser descrita como profissional. O resultado é um preconceito contra um gênero que é frequentemente esquecido pelo público e pelos realizadores.
Mas existem bons exemplos de filmes românticos. Quando um realizador inteligente se mete a trabalhar com o gênero, surgem boas pérolas. Algumas até, comédias românticas. Não pretendo listar os melhores filmes do gênero. A lista seria infinita. Vou apenas dar bons exemplos e como eles se diferem do padrão.
O Lado Bom da Vida
Para começar, que tal lembrar do filme que gerou essa reflexão? Quem não lembra ou não leu, narrei um diálogo que ocorreu com uma amiga neste post. Lá um casal deixou claro que não queria assistir ao O Lado Bom da Vida porque estava marcado no jornal como comédia romântica. Não tem como negar, o filme tem romance e comédia. Mas mais que isso, é um drama sobre uma condição mental séria e real. É sobre um homem que precisa lidar com uma situação da qual provavelmente nunca vai sair. O romance é apenas um dos passos para conseguir o que precisa. É o tipo de filme no qual o romance é apenas ferramenta para uma transformação do protagonista.
Tinha que ser Você
Dois veteranos se reúnem para discutir envelhecimento, amadurecimento, mágoas, solidão e se apaixonarem. A direção é qualquer coisa. O filme como filme não é uma grande realização. Mas o Dustin Hoffman e a Emma Thompson são tão bons e dão tanta simpatia para os personagens que se torna impossível não ficar envolvido por aquelas duas almas cansadas e solitárias. Não é sobre o romance, é sobre o estado em que os dois se encontram. Sobre um homem assombrado por suas faltas passadas e sobre uma mulher que já sofreu perdas demais e se deixou ficar sozinha por conta das mágoas.
Jejum de Amor
O péssimo nome não faz juz à obra. Considerada uma das melhores comédias já feitas, o filme do Howard Hawks é sobre um triângulo amoroso. De fundo, uma trama de jornalismo pesadíssima. Cary Grant e Rosalind Russell dão conta de manter o romance e a graça em tom divertido. Mas a verdade é que é um questionamento sobre ética nos meios de comunicação e como a malícia domina a alma das pessoas. Os poucos personagens de bom coração são os que mais perdem, os corruptos e pervertidos ou ganham ou saem no status quo. Um roteiro permeado de reviravoltas e piadas espertas e ácidas.
Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças
Deixe por conta do Charlie Kaufman para fazer um romance brilhante. A metafísica utilizada para tratar do sofrimento da perda é poética. Os dois personagens caíram no imaginário popular. Joel e Clementine resolvem apagar as lembranças um do outro através de um tratamento que pode apagar memórias específicas da mente de alguém. A história é contada através das lembranças sendo apagadas da mente de Joel. Na jornada dentro de seu cérebro, ele aprende a dar valor à Clementine, mesmo que o relacionamento seja motivo de dor no momento. No final o roteirista e o diretor deixam uma bela mensagem de esperança sobre amor e consciência.
(500) Dias com Ela
“Essa é uma história de garoto encontra garota. Mas você deve saber adiantado que esta não é uma história de amor.” O filme já começa anunciando que o foco não é romance. 500 dias depois de o personagem principal conhecer a Summer é que consegue se desvencilhar da dor e do sofrimento que é não tê-la mais em sua vida. (500) Dias com Ela é sobre amar, ter tudo o que sempre quis, perder e aprender a seguir adiante. A empatia com a situação do protagonista é tão grande que a expressão “Summer vadia” ficou popular. Demonstração de que a grande maioria não entendeu o filme. O aprendizado: depois de cada verão turbulento, um outono cheio de promessas virá.
Sabrina (1954)
Depois de tantos romances sobre outras coisas além do romance em si. Sabrina é considerado o maior dos filmes românticos. Billy Wilder dirigiu seu conto de fada moderno. Pelo menos em 1954 era moderno. Surpreendeu por ter um homem de mais de 50 anos fazendo par com uma mulher de pouco mais de 20. A trama é batida, mas é difícil encontrar um amor pelo qual dá tanta vontade de ver triunfar. Mérito do gênio comandando a bagaça. Cada diálogo entre o casal é cheio de posicionamentos significativos para as falas. Ora ele se projeta sobre ela, ora ele se encolhe. Um exemplo de como se faz cinema. O remake é uma releitura interessante e conta com Harrison Ford, o Bogart moderno.
Romance pode ser bom, só precisa de gente que queira fazer bons filmes, não apenas acertar takes tecnicamente profissionais.
FANTASTIC…
Excelentes exemplos apesar de não ter assistido a todos. Não sou parâmetro porque o filme entrou no meu top 5, mas eu colocaria o Sentidos do Amor, no qual até eu já postei no blog.
Preciso assistir esse.
Cara….é muito bom……muito bom mesmo.