As comédias românticas ficaram esquecidas por vários motivos. O público se tornou mais cínico, e as mensagens dos filmes, ultrapassadas. É fácil encontrar problemas em vários exemplares, mas é impossível dizer que não há charme em produções que trazem leveza ao espectador. E um dos melhores autores para trabalhar com a característica é o inglês Nick Hornby.
E a leveza transborda na história de Annie (Rose Byrne), uma inglesa que sente que gastou os últimos 15 anos de vida com o namorado Duncan (Chris O’Dowd), fascinado com o único disco do músico Trevor Crowe (Ethan Hawke) antes que ele desaparece nos anos 1990. Quando uma demo sombria do álbum chamada Juliet, Naked vaza, ela faz uma crítica negativa no site do companheiro e recebe resposta direta do próprio cantor recluso.
Como se trata de uma comédia romântica, é fácil ver para onde a trama vai. Annie e Crowe se apaixonam. O diferencial aqui é que o romance entre os dois é tratado como menos relevante uma vez que ambos têm sérios problemas de vida semelhantes e opostos ao mesmo tempo. Ele é um pai que se arrepende dos erros com todos os filhos. Ela está próxima dos 40 anos e nunca teve crianças, apesar de querer.
O que os roteiristas Evgenia Peretz, Jim Taylor e Tamara Jenkins fazem ao adaptar o livro de Hornby é seguir outro caminho de clichê. Ao invés de o casal ser perfeito um para o outro em peculiaridades exacerbadas e algum tipo de confusão os atrapalhar de ficar juntos, eles são pessoas comuns com problemas pessoais cotidianos. As buscas individuais de cada servem para que as buscas do outro desenvolvam.
Assim, eles criam uma sensação maior de que os dois funcionam como casal. Não é apenas química ou falas espertas, mas o fato de que ambos gostam de passar o tempo juntos e que eles crescem como pessoas quando se unem. O que também faz torcer mais para que tenham um final feliz.
Outra armadilha da qual o texto escapa é não fazer com que ninguém seja bom ou mal. Duncan funciona quase como um vilão para a relação do casal principal, mas nada do que ele faz é por maldade. Ele não percebe que se tornou insensível à namorada com o passar dos anos, nem que o fascínio dele pela música de Crowe ultrapassa o absurdo.
E com um excelente ator como O’Dowd, que vai do patético de um homem focado apenas em si para a sutileza de alguém que sente intensamente pela arte, o personagem é muito mais complexo do que apenas um bobão a ser superado romanticamente.
Ele está muitíssimo bem acompanhado de Rose Byrne, uma grande atriz inglesa que se destaca tanto por papéis cômicos quanto por dramáticos. Isso porque ela acrescenta veracidade para os olhares engraçados da personagem em situações absurdas. Ela faz com que Annie seja adorável por ser divertida e honesta.
Hawke também sustenta a qualidade do elenco com um homem que aprendeu a deixar as armadilhas da fama para trás, mas que ainda sofre pelos erros do passado. Ele expressa com coluna levemente curva para a frente um cansaço, assim como com viradas de olho quando percebe que alguém falou de algo que ele quer esquecer.
O que mais incomoda em Juliet, Nua e Crua é a direção inexpressiva de Jesse Peretz. Ele é correto e faz o mínimo para contar a história. Onde se destaca é na direção de atores, mas reduz a narrativa a uma iluminação que apenas preenche espaços.
No entanto, o filme transborda personalidade. Em grande parte pelos personagens cativantes e pela beleza e sutileza de pequenos momentos das vidas de pessoas “ordinárias”. Sejam elas ingleses do interior, ou um astro de rock esquecido pelo tempo.