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Cópias: De Volta à Vida (Replicas – 2018)

Existem várias razões para assistir a este Cópias: tem o Keanu Reeves; é uma das raras ficções-científicas a chegar aos cinemas sem influência ou adaptação de nenhum outro lugar. E é justamente por ser um desses casos incomuns, que produções como ela são perigosas. Se tiverem baixa qualidade ou não renderem, a entrada de renda tende a ir apenas para materiais com algum tipo de passado, como adaptações.

Assim, acompanhamos o desespero do cientista Will Foster (Keanu Reeves) quando ele sofre um acidente de carro e acorda com a esposa Mona (Alice Eve) e os três filhos mortos. Para tentar salvá-los, ele usa as tecnologias às quais tem acesso para clonar os três e transferir as memórias de cada para os novos corpos. Tudo em segredo porque a empreitada foge de inúmeras regras de moral e de leis internacionais.

Com isso, o espectador acompanha um suspense cheio de obstáculos para o protagonista continuar a vida com a família. E o diretor Jeffrey Nachmanoff junto do roteirista Chad St. John buscam todas as problemáticas do cotidiano para construir em cima dos problemas que aparecem naturalmente para Will.

Will remove o corpo de uma das filhas do carro.

Aos poucos, pequenas situações inusitadas atrapalham ele. Como o fato de que os filhos faltam demais à escola, ou que ele não tem ido ao trabalho. Trata-se, única e exclusivamente, de um suspense em um contexto de ficção-científica, sem a proposta de levantar questões sobre se aquelas pessoas que ele produz são, de fato, aquelas que ele amava. Se a cópia é uma continuidade da vida, ou se ela é algo diferente.

Mesmo que a ideia seja seguir um caminho mais superficial voltado para a diversão, St. John e Nachmanoff erram ao não saber dar o tom para o filme. Existe um desespero em Will quando ele tenta quebrar as leis da natureza, mas o momento é escrito e conduzido quase com apatia. Ele implora para um colega ajudá-lo a construir os corpos, mas as falas e ações não condizem com essa necessidade.

E a direção de atores segue essa linha. Quando Will abre o jogo para a clone da esposa sobre o que eles são de verdade, ela reage com uma indiferença estarrecedora. E a atriz Alice Eve, normalmente muito eficiente, parece confusa entre os sentimentos da personagem. Há muito que ela deveria sentir, desde revolta e negação até a raiva, mas ela apenas olha para o marido e parece aceitar tudo com naturalidade. O que parece ser mais um problema dos realizadores em definir o que os personagens deveriam expressar, do que um erro da intérprete.

Viagem maldita. Família no carro antes do acidente.

Isso sem contar com os diálogos expositivos. Após uma ótima cena inicial em que Will testa a transição das memórias de um soldado morto para um robô, St. John cria cerca de vinte minutos de conversas entre os personagens para que o espectador compreenda todos os contextos. O que não seria necessariamente ruim, se não fosse um marido que fala para a esposa médica como são as experiências científicas de mais de anos. Ela já deveria saber de tudo aquilo.

Essa incoerência nas interações se mantém até o fim do filme, o que faz com que todas as cenas pareçam estranhas. Como se os personagens não se conhecessem de verdade, ou como se os atores não soubessem o que fazer em cada situação. Mesmo que Nachmanoff saiba conduzir o filme tecnicamente. As cenas seguem um padrão de filmagem para que ações futuras não fiquem confusas.

Como o uso de um óculos holográfico com o qual Will consegue programar as transições de memória. Com um movimento rápido de câmera pela cabeça do ator, é possível compreender que ele vê as imagens por meio do óculos e que os outros personagens não veem o mesmo que ele. Além disso, o diretor usa e abusa de tons frios para dar a noção de ambientes tecnológicos em que o calor da humanidade é diminuído. Ao mesmo tempo que as cores aumentam de saturação nos cenários familiares.

Eu Robô. Isaac Azimov para dar e vender.

Assim como os clones da história, Cópias parece uma oportunidade vazia. Um suspense que nunca empolga devido aos problemas de roteiro e de direção, e uma ficção-científica que serve mais como estilo que como questionamento. Nem mesmo os dois bons atores principais seguram. O que salva é a direção de arte inventiva e alguns aspectos técnicos discretos.

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