A palavra Scarface em relação a cinema remete quase imediatamente ao remake deste filme feito pelo Brian de Palma com o Al Pacino décadas mais tarde. Mas mesmo a atualização bem feita não destinou o original de 1932 ao esquecimento.
Porque de Palma adaptou o filme com tom de panfletagem e o colocou em um contexto mais sujo de cinematografia e com a situação política dos Estados Unidos de então. Mas as qualidades ainda estão lá. Desde o globo escrito em neon que: “O mundo é seu”. E também trocou um grande astro de 1930, que é o Paul Muni, por um dos maiores atores de todos os tempos.
É preciso compreender a era, em que as atuações eram mais histriônicas devido à adaptação da arte teatral para o cinema. Por isso, os atores jogam as mãos para todos os lados enquanto gritam, como se quisessem alcançar o espectador da última fileira do cinema, o que se mostrou desnecessário com o tempo, mas em 1930 era o meio de atuar.
Além disso, o filme Howard Hawks se tornou popular justamente por tratar de um limiar que fascina o ser humano: a maldade. Para o público da época, o Toni Camonte de Paul Muni era algo semelhante ao Walter White de Breaking Bad, ou o Hannibal de Anthony Hopkins. Ele permite um mergulho no nosso lado mais sombrio e assustador de forma segura. E também abre espaço para discutir sobre isso uns com os outros.
É impressionante que este filme tenha saído no mesmo ano de O Fugitivo, em que Muni interpreta justamente o oposto de Toni: o homem inocente. Serve quase de sessão dupla com aquele filme. Ambos recomendadíssimos.