No começo do cinema, as mulheres passaram várias fases de representação nos filmes. Das virginais e sedutoras diabólicas, aos poucos ganharam nova faceta ao misturar estilos e se tornarem mais fortes e independentes. O machismo ainda é vigente, é claro, mas a alemã Marlene Dietrich foi uma das pioneiras na hora de ser esse misto de sensualidade, vulnerabilidade e inocência.
Em O Expresso de Xangai, ela é conhecida como Shanghai Lily (Lírio de Xangai, em tradução literal). O filme apenas sugere que ela é a acompanhante mais famosa da China, que pega um trem de Pequim para Xangai cheio de figuras estranhas. Entre elas, um militar americano que ela imediatamente reconhece como Doc (Clive Brook). Os dois estiveram apaixonados cinco anos antes e se separaram por orgulho mútuo.
O que seria apenas um reencontro desconfortável e rápido ganha maiores contornos quando o trem é parado por uma milícia rebelde em busca de reféns. Tem quase um ritmo de romance policial, com apresentação dos personagens, conflito e resolução por meio deles. Mas o diretor Joseph Von Sternberg sabe sobre o que é a história, o romance destruído dos dois protagonistas… E sobre o rosto de Dietrich.
Ciente do próprio estrelato, a atriz sabia até que tipos de iluminações e ângulos funcionavam para o rosto dela. Mas Sternberg era fascinado pela beleza da alemã, e não deixou por menos. A filma sob tecidos, com diferentes tipos de filtros e de sombras. Além do visual, porém, Dietrich tinha uma presença marcante com olhares penetrantes e intensos. Mesmo quando a cena não é sobre ela, ela conseguia roubar para si.