No primeiros minutos da adaptação para os cinemas de A Família Addams, dirigida por Barry Sonnenfeld em 1991, somos apresentados aos membros do clã que dá nome ao filme. O grupo já era famoso desde a criação em histórias em quadrinhos décadas antes, mas precisava de introdução individual à altura. Pai, mãe, filho, filha, mordomo, avó e… mão são apresentados um a um para dar o tom da produção.
De todas, a melhor é a primeira cena do pai Gomez (Raul Julia), enquanto observa a esposa Morticia (Angelica Huston) dormir. Há muito a ser visto no rápido diálogo. Em grande parte porque Sonnenfeld já tinha no currículo o cargo de diretor de fotografia de vários grandes filmes. Então é notável algo que se tornou um marco na carreira dele, o expressionismo por meio de sombras.
Apesar de todos os integrantes da família usarem muito pó de arroz para ficarem pálidos, ela é quem mais deve aparentar um estado cadavérico. E as sombras que realçam apenas os olhos cheio de luz dela apenas reforçam essa morbidez. Mas além deste visual extraordinário, é o diálogo que sai da boca dos excelentes atores que reforça o humor do filme que decorrerá a seguir.
“Eu morreria por ela. Eu mataria por ela. De qualquer forma, que êxtase” entoa Gomez de forma pertubadora. Ela acorda sorrindo para as afirmações do marido, que pergunta “Infeliz, querida?” O sorriso aumenta junto com a resposta “Muito.”
É difícil compreender a alegria de estar triste, mas essa é a beleza da família Addams. Eles são pessoas que se amam e que ficam felizes com a satisfação um do outro. Pouco importa se essa satisfação envolva dor, tristeza, morte, mutilação. É quase irônico que eles sejam tão facilmente aceitos como humor infantil uma vez que são pessoas comuns, mas sádicas e masoquistas.