Essa é pra dissecar veneno. Todo ano surgem filmes estupendos que me fazem lembrar de porque amo cinema. E também filmes que servem apenas para me dar desculpas para falar mal por aí impunemente. Os Miseráveis foi um dos péssimos filmes desse ano.
É um filme feito calculadamente para ser indicado ao Oscar. Musical das antigas, com tragédia das antigas e cenário épico. Tudo muito lindo, com a parte técnica impecável. O resultado foi uma porrada de indicações desmerecidas ao Oscar.
Adaptação da obra-prima de Vitor Hugo. Uns franceses transformaram o livro em uma peça musical. Fez sucesso por aí e agora o diretor Tom Hooper resolveu fazer a maior adaptação do troço para o cinema. O resultado vai além da incompreensão.
Em favor das músicas e do tom, eles escolhem remover coisas pequenas que são importantes para a história. O desenvolvimento romântico entre Valjean e Fantine, o aprofundamento na dubiedade de Javer, até os dias de romance escondido entre Cosete e Marius.
Ao invés disso, só vamos descobrir que Valjean é apaixonado por Fantine no final em uma estrofe de uma música muito longa e desnecessária. Javer é moral o tempo inteiro. E Cosete e Marius se apaixonam porque amor é assim, à primeira vista, né?
Perde tempo com personagens inventados para o musical como o casal vivido pela Helena Bonham-Carter e o Sacha Baron Cohen. Ambos bizarros e fora de contexto, só pioram o ritmo de uma produção já problemática. Como se já não tivesse alongado o bastante, quando o conflito principal do filme termina, somos obrigados a assistir meia hora de cantoria inútil que fica exaltando a tragédia da morte de um homem bom.
Seus 61 milhões de dólares de orçamento são gastos com cenários gigantes, um exército de figurantes usando um exército de figurinos. Com exagero em coisas como um caixão que tem o tamanho de uma casa e outras maluquices. Logo na abertura vemos um cenário imenso com algumas centenas de pessoas puxando cordas gigantes em conjunto para tirar da água um navio de guerra ainda mais absurdo em escala.
Tanta grandiosidade para chegarmos às cenas de canto com focos profundos e close-ups constrangedores. Que quase nunca focam corretamente. Uma cena, com o Marius cantando a morte dos companheiros, tem o foco vergonhosamente preso na orelha do ator, não em seus olhos.
Até a versão de 1998, que é pobrezinha, consegue ser melhor.
O orçamento garantiu qualidade?
No geral não.
O que o orçamento garantiu?
Técnica. A fotografia, a composição e a direção de arte geram imagens poderosas e belas.
GERÔNIMOOOOOO…