Entendo o questionamento em relação à qualidade da revista Turma da Mônica Jovem. Eu mesmo achei a ideia péssima no começo da publicação. Mas como um grande fã da franquia desde a infância, me forcei a verificar. Felizmente, o negócio me surpreendeu. Os personagens são cativantes, o desenvolvimento psicológico de cada um é interessante e diversos dos roteiros são ótimos.
Dentre esses ótimos roteiros, saiu alguns meses atrás a edição 67. Nela, o Cascão e a Magali se pegam presos em uma cilada para terminarem seus namoros e ficarem juntos. A edição segue uma linha de histórias da publicação feitas para justificar certas escolhas para os leitores.
Durante as primeiras edições, o personagem Do Contra ganhou destaque com piadas sobre ele não ter medo da Mônica. Daí a fama dele cresceu e os fãs passaram a torcer para que ele ficasse com a protagonista no lugar do Cebola, como o Cebolinha crescido é chamado. Para lidar com essa expectativa dos fãs, uma série de histórias foram escritas construindo a relação do Do Contra com a Mônica e fechando o ciclo com ela percebendo que gosta mais do Cebola. Muitos dos fãs, assim como eu mesmo, acabaram tendo o Do Contra como personagem favorito.
Nessa mesma linha de raciocínio, muita gente passou a torcer para que o Cascão e a Magali ficassem juntos. Provavelmente porque a turma principal consiste nos dois somados ao Cebola e a Mônica. Ou seja, um casal e dois amigos de sexos opostos que andam juntos. Os namorados dos dois, Quindim e Cascuda, fazem parte dos personagens secundários da franquia.
Para dar um ponto final nessa vontade dos fãs, essa edição foi criada. Então já ganha alguns pontos por brincar com expectativas. Mas seguindo a linha das edições mais bem escritas, o roteiro aqui trata também de questões complicadas, como dinâmicas de relacionamentos.
O Cascão tem problemas com a Cascuda porque não consegue se empenhar para cumprir compromissos. Enquanto isso, a Magali está perdendo a paciência com o Quindim porque ele se preocupa demais e pede desculpas por tudo. Depois de alguns desentendimentos, os dois acabam se consolando e se ajudando após o término dos dois relacionamentos. Então percebem que podem vir a ser um casal interessante.
No meio disso, existem pequenas reflexões sobre culpa e sobre como personalidades diferentes possuem química entre si. Cascão é o oposto do Quindim e a Magali é o oposto da Cascuda. Será que essa reversão pode ser a solução para pequenos problemas que surgem com frequência nos dois relacionamentos?
O grande trunfo mesmo é terem conseguido contar uma história tão redondinha com tantos temas complexos em uma edição tão enxuta. Eu levei aproximadamente meia hora para terminar a leitura, me diverti, me surpreendi com as escolhas do roteiro e fiquei preso em reflexões sobre aquelas questões na minha própria vida.
Recomendo fortemente tentar acompanhar Turma da Mônica Jovem. Aqui e ali surgem algumas histórias bobas e sem sentido, mas de vez em quando uma edição tão boa quanto esta aparece. Para melhorar, o final deixou uma pista de que o número 68 viria a ser sobre o Do Contra. Finalmente o personagem recebeu uma história tão boa quanto ele merece.
GERÔNIMOOOOOOOOO…