A famosa regra dos 15 pode ser cruel. Minhas lembranças de infância de Twister eram as de um filme maneiríssimo. Lembro de ter passado dias indo e voltando na locadora doido para alugar o filme próximo ao lançamento em VHS. Eu tinha 8 anos na época e minha opinião sobre o filme era a seguinte, “vamos lá ver os furacões pequenos quebrando tudo.”
Bill Harding (Bill Paxton) está começando a carreira como apresentador da parte de previsão do tempo de um telejornal. Prestes a se casar com uma terapeuta, ele precisa buscar a assinatura dos papéis de divórcio com a ex-esposa, Jo (Helen Hunt). Porém, ele a encontra no dia em que ela pretende fazer uso de um equipamento inventado por ele para previsão de tornados.
A descrição não faz muito sentido com minha lembrança do filme. O que eu lembro é de uma galera perseguindo os tornados feito loucos enquanto os funis de vento destruíam tudo. Passando por casas, carros, árvores, drive-ins, caminhões tanques e até vacas (momento icônico da fala “acho que é a mesma vaca”). Honestamente, foi nessa parte que eu compreendi, ainda na infância, onde fica toda a qualidade do filme.
Usando de uma tecnologia de computação gráfica inovadora para a época, a equipe de efeitos especiais criou aterradores tornados foto realistas. Mas foi preciso muito mais que isso para criar o caos mostrado pela produção. Jan de Bont, o diretor, fez um trabalho excelente ao criar a violência e a destruição causada por aqueles monstros naturais. É assustador a potência deles e como eles destroem tudo em seu caminho. Criar caos em filme é difícil, em escala tão alta é ainda mais complicado. De Bont faz um excelente trabalho em não perder o espectador nessas cenas e ainda representar a tensão de estar envolvido no meio daquela loucura.
O problema está na outra parte. A parte que faz com que nos importemos com as pessoas presas embaixo de pontes e em porões tentando sobreviver ao que acontece. Se você leu a sinopse lá em cima, já sabe qual vai ser o final do filme. Bill saiu da vida de caça a tornados porque queria segurança, por isso abandonou Jo e se afastou. É uma coincidência e tanto ele ter aparecido para buscar os papéis de divórcio não apenas no dia em que algum fenômeno meteorológico vai criar uma sequência de tornados consecutivos, mas também no dia em que Jo vai usar pela primeira vez a tecnologia inventada por ele.
O equipamento se chama Dorothy (uma homenagem ao filme com o tornado mais famoso do cinema). Ele constitui num latão cheio de bolinhas que devem ser sugadas por um tornado e transmitir informações de dentro dele. A ideia é conseguir, com essas informações novas, melhorar a previsão de tornados e salvar mais vidas.
É o motivo pelo qual Bill, Jo e a equipe dos dois vai perseguir os tornados através do filme. O plano é deixar um dos latões com as bolinhas no caminho de um dos tornados e sair da frente. No meio da trama, qualquer um vai ser capaz de prever como o triângulo Bill, Jo e terapeuta vai acabar. A penúltima lata Dorothy falha porque o tornado simplesmente não levantou as bolinhas ao mesmo tempo em que um outro não previsto quase mata uma tia da Jo que aparece de lugar nenhum, solta uma pérolas de sabedoria e some. Então, quase sem esperanças, Bill e Jo vêm um cata-vendo e tem a ideia brilhante de fazer nas bolinhas umas hélices de alumínio. Entra um merchandising vergonhoso da Pepsi enquanto os cientistas fazem uma coisa um tanto quanto óbvia que não deveriam ter percebido apenas olhando para cata-ventos depois de destruir três versões de sua maravilhosa invenção.
A pior parte são as construções dos personagens. Tem uma equipe adversária de caçadores de tornados que são vilões porque suas vãs são pretas e ele têm patrocínio. Porque o capitalismo é a representação do mal de acordo com o filme patrocinado pela Pepsi. Para criar a rivalidade, o roteiro coloca Bill atacando os caras sem aviso. Daí Jo apenas fala “seu temperamento não mudou nada”. E simples assim, fica demonstrado que quem faz as coisas por paixão sem pensar em dinheiro e age antes de pensar é naturalmente bom.
A equipe da Jo é composta por um bando de masoquistas malucos e sem personalidade que não possuem muita função no filme a não ser gritar e formar o grupo do “bem” porque são extrovertidos e fazem piada sem parar. De todo o grupo só dá pra reconhecer o Phillip Seymour Hofman em começo de carreira. E só por conta do que ele conquistou depois, porque ele mesmo não tem personalidade alguma na produção. Melinda, a noiva de Bill é uma dondoca que rapidamente percebe que não tem lugar na vida de riscos de Bill.
Bill e Jo observam Dorothy voar. Os dois únicos traços de personalidade do filme.
Quem possui alguma característica pessoal são apenas Bill e Jo. Ele está dividido entre o gosto por aventura e a vida de segurança longe de Jo, que se arrisca ainda além do que ele se permite. Ela tem uma obsessão pelos tornados causada pelo trauma de ter visto o pai ser morto por um quando era criança. Bill Paxton e Helen Hunt são grandes atores e se esforçam para dar humanidade para a produção e para seus personagens.
O problema é que a megalomania de de Bont para construir a destruição ofusca qualquer história e o filme fica nisso. Uma correria que impressiona muito, mas não envolve o espectador o suficiente para nos importarmos com os personagens nas cenas de ação.
FANTASTIC…
Filme chato demais. A parte que mais chamava atenção nas vinhetas da Globo lixo era a parte da vaca “voando”. E antes de ler aqui sua explicação eu nunca imaginei pra que serviam aquelas bolas de alumínio,até pq o filme é tão desinteressante que nem vi ele todo..valeu.