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Fora do cinema – Piloto de The Newsroom

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Não é surpresa para ninguém que eu não tenho mais paciência para assistir séries. As pessoas adoram porque normalmente esses shows tratam de histórias complexas e longas com personagens envolventes. O problema é que, assim como esses shows começam bem e com ótima escrita, eventualmente todos acabam perdendo a mão e ficando ruim. Pelo que os boatos dizem, esse The Newsroom segue o mesmo caminho. Mas, mesmo que vire uma grande enrolação mais pra frente, só este piloto já é algo extraordinário.

Grande âncora de telejornal do horário nobre, Will McAvoy (Daniels) conseguiu a fama através de noticiários que se baseiam em seu carisma e bom humor. Um dia, durante uma entrevista com audiência, ele não consegue se segurar e responde à pergunta “Por que os Estados Unidos são o melhor país do mundo?” dizendo que eles não são. Foi ainda além, ofendendo três colegas de profissão publicamente e toda uma geração de estudantes universitários. Por conta disso é forçado a aceitar sua antiga produtora-chefe de volta ao programa, o que vai forçá-lo a mudar o formato do jornal.
A ideia aqui é discutir o papel do jornalismo, o que ele se tornou no mundo politicamente correto e quais os caminhos a serem percorridos para que ele passe a fazer sentido. A discussão é complicadíssima não apenas para a sociedade geral, mas dentro da área de ética jornalista também. O que mais tem neste mundo são jornalistas que não concordam com as escolhas éticas uns dos outros.
Aqui, o roteirista Aaron Sorkin quer passar a sua opinião sobre o assunto. E como quase todas as opiniões, a dele é bastante polêmica. De acordo com Sorkin, o papel do jornalismo é revelar todas as coisas que estão erradas para toda a sociedade para que esta possa avançar e, no caso dos Estados Unidos, voltar a ser o melhor país do mundo.

The.Newsroom.2012.S01E01.HDTV_.x264-ASAP.mp4_000285118-e1340834376649A dica para a pergutna se os Estados Unidos são o melhor país do mundo.

Um dos problemas mais óbvios é o fato de que é uma visão extremamente nacionalista dos Estados Unidos. Ou como McAvoy diz em um monólogo no começo do episódio, “Os Estados Unidos não são o melhor país do mundo, mas ele pode voltar a ser”. É uma questão incômoda para qualquer espectador estrangeiro, mas é também algo que deve ser deixado de lado. Principalmente porque o Aaron Sorkin é um gênio.
Não foi sorte a vitória de melhor roteiro por A Rede Social. Sorkin sabe escrever diálogos complexos, rápidos, que movem a história, dão ritmo ao texto e ainda possuem múltiplos significados. Aqui vemos os atores cuspindo frases super aceleradas que não vão ser completamente compreendidas caso o espectador não esteja prestando atenção. Em um diálogo extraordinário no começo, dois personagens estão discutindo. Dentre as rápidas trocas, eles falam sobre o relacionamento proibido dos dois (ele é um dos chefes de redação e ela é estagiária), sobre uma promoção acidental dela, sobre a mudança dele e de sua equipe de programa e sobre a situação da estação. É muita exposição para um diálogo, mas nunca parece idiota, inútil ou inadequado. A ironia do texto e seu estilo garantem que tudo soe natural.
Além dos diálogos brilhantes, a estrutura que os encaixa em cenas colocadas nos locais certos criam um grande ritmo que cresce até o clímax. Em certo ponto, Sorkin cria tensão ao fazer com que os dois protagonistas estejam discutindo um grande conflito que pode custar o emprego de todos. Em paralelo, uma notícia de escala gigante chega para os redatores. Dois dos quais são concorrentes. Então existem dois conflitos sendo desenvolvidos ao mesmo tempo, cada um com uma tensão diferente e as duas interligadas entre si. Os dois diálogos feitos com as falas elaboradas de Sorkin. É estarrecedor. No clímax, quando é retratado o jornalismo idealizado por Sorkin com o envolvimento de todos os personagens, é impossível não ficar atento à tela.
Mas o episódio não tira suas qualidades apenas do roteiro de Sorkin. Diferente da grande maioria das séries, o piloto de The Newsroom é muitíssimo bem dirigido por Greg Mottola. Hábil para construir estilos audiovisuais, Mottola equilibra bem as cenas aceleradas exigidas pelo texto com construção de cena e de ambientação. Com isso, o texto de Sorkin brilha como deve.
Jeff Daniels dá carisma a este homem terrivelmente irritado e cansado. Seu Will McAvoy é um homem que perdeu a fé no mundo e apenas vive pensando em si. A Emily Mortimer está sempre ótima. Dá para entender como ela consegue estimular alguém a ser o seu melhor com seu estilo otimista mesmo após ter visto o pior do mundo. A Alison Pill também é sempre algo de destaque nas obras em que participa e aqui não é exceção. Ela faz a estagiária que virou produtora associada por engano e precisa deixar a inexperiência de lado para cuidar de um telejornal difícil como o da série. Os atores John Gallagher Jr. e Thomas Sadoski são os dois pretendentes que disputam o espaço na redação e no coração dela. Ambos acertando quando precisam ser empáticos. Ali no canto tem o Dev Patel, bem tímido e inexpressivo. Imagino que ele ainda vai ganhar mais destaque durante a série.

newsroom-s1-ep1Emily Mortimer e Jeff Daniels em cena. Dupla de protagonistas de peso.

É muito triste ter que chamar essa pérola de episódio, porque diminui o seu valor em um conteúdo que vai acabar diminuindo a qualidade. O piloto de The Newsroom é melhor que dois terços dos filmes lançados neste ano e seu roteiro poderia facilmente ser comparado em qualidade com o de Ela, o último vencedor do Oscar da categoria. Caso você, assim como eu, tenha preguiça de séries, assista pelo menos este episódio.
 
FANTASTIC…

3 comentários em “Fora do cinema – Piloto de The Newsroom

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