Na verdade, não quero usar este espaço para discutir o episódio inteiro. Em parte porque ele é só mais um degrau no decorrer da terceira temporada. Algumas tramas menores são fechadas, mas no geral, grande parte das pontas ficam abertas. O motivo para falar sobre “Run” é a trama da Maggie, como ela discute ética e como reflete as questões levantadas na temporada.
No episódio anterior, Boston, Maggie foi para a cidade de Baltimore para cobrir os eventos da maratona que sofreu um atentado na cidade em 2013. Em um trem de volta para Nova Iorque, ela percebe uma oportunidade única. Um representante da EPA (não faço ideia do que seja o órgão) está no telefone com um amigo jornalista para dar uma exclusiva. A personagem se esgueira para o banco atrás e grava a conversa com seu celular. Finalizada a ligação, ela se apresenta e pergunta se ele quer se pronunciar dado o fato de que ela já tem muitas informações ditas por ele em um local aberto. O que se segue é, em termos de jornalismo, interessantíssimo.
Lembro muito bem de uma situação semelhante citada por um professor em sala de aula. Um jornalista foi jantar em um restaurante e percebeu, sentado em outra mesa, a presença de um político. O repórter simplesmente abriu um caderno de anotações e começou a escrever citações do que o representante dizia. A matéria foi capa de um grande jornal brasileiro. E tudo obtido dentro da lei e da ética jornalística.
No episódio, ao confrontar o representante da EPA, Maggie escuta dele que, por mais que ela esteja dentro da lei, ela conseguiu a informação de maneira esguia por ter se escondido dele enquanto ele falava. Ela pensa por alguns segundos, concorda e afirma que não vai mais fazer a matéria. Não à toa, um professor de ética se encontra sentado ao lado de Maggie e discute com ela acerca do que ela fez.
Professor de ética discute se ela deve ou não publicar o furo.
Uma vez questionei um professor de ética da minha faculdade sobre quando um repórter deve escolher o que revelar do que manter como segredo. A resposta foi que, em termos de moral jornalística, ele deve mostrar tudo o que for de interesse público, mas a escolha é pessoal. A ética se encontra no momento em que a pessoa deve escolher se vai seguir as regras da profissão ou se o que acha correto vai contra. Exatamente por isso que Maggie diz, em determinado ponto, que espera que os superiores não saibam que ela deixou passar um furo.
O que está relacionado diretamente com a trama central da temporada. O personagem Neal Sampat recebe uma informação vazada por uma fonte interna de que o governo foi responsável por uma revolta em um país estrangeiro que resultou na morte de três americanos. Há o interesse público, documentos oficiais e uma fonte, mas Neal pede para o contato mais provas. No caso, as provas são documentos secretos do governo. Ou seja, Neal comete um crime de conspiração e espionagem. Daí começa a discussão: a origem da informação é um crime de traição ao país, mas a informação é real e importante. Quais as opções éticas.
FBI invade a redação. Discussão moderna.
Trata-se de uma referência direta aos dilemas recentes do Julian Assange e do Edward Snowden. Pessoas que revelaram muitas informações de interesse público, mas que eram segredos de estado. Logo, os dois são caçados pelo resto da vida pelos Estados Unidos. A primeira temporada da série discutia a autonomia do jornalismo quando ele é sustentado pela publicidade e pelos interesses dos patrocinadores. A segunda fala sobre os erros, as erratas e a vergonha de perda de credibilidade. Nesta terceira, o debate é bem claro, ética.
Melhor ainda é a conclusão da história de Maggie. Porque ela escolheu o caminho que acreditava ser o correto, ganhou a credibilidade do representante da EPA. Ele confiou a ela uma notícia exclusiva. O comportamento correto levou a um ganho. É um tanto quanto ufanista (adjetivo comum a quase tudo em Newsroom), mas é uma reflexão a cerca do que é, ou deveria ser, o bom jornalismo.
ALLONS-YYYYYYYYY…