A imagem acima demonstra muito bem o poder do Paul Thomas Anderson para direção. A fotografia ilumina melhor o Philip Seymour Hoffman no centro do enquadramento. Todo o resto está um pouco mais para a sombra. A luz incide da direção do personagem central para os outros. Anderson está dizendo através das imagens e da fotografia que todos ali são pessoas parte nas sombras, até o tal mestre. Mesmo que ele seja o guia do caminho para os outros.
Lá no canto da imagem, temos o Joaquin Phoenix, seu personagem é um dos que está mais na escuridão. É o que menos acredita no caminho do mestre e o que está mais perdido. Simples assim, com um frame, Thomas Anderson explica o contexto de quase duas horas e meia de filme.
É claro que O Mestre é muito mais complexo que isso. Paul Thomas Anderson não é exatamente o diretor mais fácil. Seu último filme, Sangue Negro, é uma das obras-primas da década passada. Tem três horas de duração e quase vinte minutos sem fala no começo. Assim como Anderson usou aquele como meio de expressar a ganância e o extremismo dos Estados Unidos, ele usa este pra expressar os caminhos tempestuosos de seitas e religiões.
É um retrato da relação entre um líder de um culto com um homem perdido. O mestre tem como objetivo iluminar e salvar a vida do homem. Hoffman representa tão bem que realmente parece que ele acredita nas coisas que diz, mesmo que o comportamento errático do personagem prejudique o discurso. O que é proposital. A ideia é criar essa imagem dúbia na “religião” proposta. O personagem acredita no que diz, mas não sabe lidar quando sua “crença” é posta a prova com contra argumentos lógicos.
E isso fica ainda mais evidente na jornada do personagem do Joaquim Phoenix. Ele acredita, duvida, se salva, se perde, prega e se afasta. É um retrato das questões levantadas sobre as propostas do tal mestre. Por sinal, se Hoffman está ótimo, Phoenix está um grau acima. É impressionante o quanto ele é o personagem. Tem uma postura diferente, uma expressão diferente, trejeitos, até a voz. Uma interpretação comparável às grandes atuações do Daniel Day-Lewis.
As duas interpretações poderosas rendem cenas poderosas. Os diálogos entre o mestre e Freddie Quell, personagem de Phoenix exultam em nervosismo e atração. O homem supostamente iluminado e o homem quase animal se atraem. Um se atrai pelo desafio de salvar o outro, o outro se atrai pelo discurso do um. E quando o mestre usa seus métodos de transformação e orientação para Quell, o pobre homem parece estar em guerra dentro de si. São momentos fortes em que Phoenix realmente parece ter uma besta contida no corpo.
Infelizmente o filme se repete nesse discurso durante toda a sua extensão. É bom, mas também é cansativo demais. Quando faltava meia hora para o filme acabar, eu estava destruído. Ainda assim, é um dos melhores filmes em cartaz atualmente, merece uma conferida.
GERÔNIMOOOOOOOO…