O fato de que um livro chamado Sangue Quente virou um filme com o título Meu Namorado é um Zumbi demonstra muito bem a maluquice que é o marketing feito pra vender a produção para o público. Como se colocar um comentário da Stephenie Meyer na capa do livro não fosse negativo o bastante.
O filme é do estúdio de Crepúsculo, foi feito pra ser um substituto de Crepúsculo e foi lançado no período do dia dos namorados estadunidense de propósito. Ou seja, é tudo planejado para levar garotas e seus respectivos namorados para o cinema. Tanto o é que a sessão na qual assisti só tinha isso, meninas e casais. E eu perdido no meio dessa galera.
Então por que eu fui assistir um troço desses? Dois motivos, o review positivo que os caras do MRG fizeram do livro e o ator Nicholas Hoult. Hoult foi tão simpático como o Marcus de Um Grande Garoto que eu simplesmente gosto de torcer por sua carreira. De resto, esperava um Crepúsculo com zumbis. Por mais que seja um pouco assim, Sangue Quente (recuso-me a usar o título oficial) surpreendeu.
O universo da história é interessantíssimo. É uma visão de zumbis completamente nova. Eles colocam uma pessoa consciente dentro da criatura. Imagine que aqueles seres assustadores, monstruosos e comedores de gente têm um alguém lá dentro que sente-se mal por cada pessoa que é obrigado a matar. Eles têm uma razão para quererem tanto comer cérebros e sentem falta de estar vivos. Quase não lembram de nada de suas vidas. O protagonista mesmo só lembra que seu nome começa com R.
Quando os zumbis comem cérebros, eles têm lembranças e sensações de vida. Por isso mesmo precisam tanto se alimentar do orgão. R mata um jovem e começa a comer seu cérebro, enquanto ainda revive as memórias, ele acaba encontrando a namorada de sua última vítima. E por algum motivo, os sentimentos de amor ficam latentes em R. O zumbi, ao invés de comer a garota, a salva e leva para seu habitat.
Essa parte da história é interessantíssima. Temos um monstro questionando sua condição e aos poucos indo contra sua natureza. A cena em que R se recusa a comer cérebro pela primeira vez é ótima. O personagem sente pela primeira vez o quanto ele mesmo é grotesco.
A princípio incomoda o quanto os zumbis parecem conscientes e humanos demais. Mas a medida em que o funcionamento do universo vai sendo explicado a caracterização ganha seu sentido. Nesse mundo, os zumbis são a fase entre a humanidade e a bestialidade total. Enquanto zumbis, as criaturas ainda estão se apegando a algum tipo de humanidade, quando se desapegam disso, vão para o estágio final, que são os esqueléticos, seres bizarros feitos em uma computação gráfica bastante decente.
A fotografia é bem trabalhada, o mundo dos zumbis vai passando do cinza para tons mais naturais, o mundo humano é mais quente e as lembranças e pensamentos que R desenvolve são bastante quentes e vivos. Ajuda a contar a história, por mais básica que seja.
Lá pro final descamba pra um romance bobo, mas felizmente são só nos últimos quinze minutos. Um problema sério são situações convenientes e sem sentido que o roteiro cria. Incomoda que os zumbis tenham dentes em boas condições, que a garota, Julie, após passar dias com o protagonista sem tomar banho, continua limpa e maquiada. Os dois saem pra passear numa cena bonitinha quando é conveniente , apesar de ser um mundo de ameaças e perigos. É uma bagunça em ambientação, apesar de ter uma estrutura coesa. O tom de comédia se perde aqui e ali, apesar de ser importante para o tratamento da história.
R vai aos poucos ficando menos cinza e mais vivo, e Hoult interpreta isso bem. O personagem vai aos poucos mudando seu comportamento. Vai aos poucos criando uma postura diferente, movimentos mais articulados, o rosto fica cada vez mais expressivo.
Divertiu, tem um universo rico e interessante e é rapidinho. Infelizmente tem muitos defeitos também. Eu assistiria fácil um filme de três horas só com a ambientação sobre o mundo dos zumbis dos primeiros minutos.
GERÔNIMOOOOOO…