Texto por Jade Abreu
O filme A Batalha das Correntes conta a história da disputa entre Thomas Edison (Benedict Cumberbatch) e George Westinghouse (Michael Shannon) para estabelecer o domínio de qual modelo de energia elétrica seria usado, baseado na corrente direta (Edison) ou na corrente alternada (Westinghouse). O debate ocorre porque um modelo é mais seguro enquanto o outro é mais barato e alcança mais pessoas.
O filme começa em 1880 em Nova York, momento em que a genialidade de Edison já era consagrada. Logo no início, duvidam que a corrente alternada daria certo porque “se fosse possível Edison já teria feito”.
Particularmente, eu gosto de filmes históricos. É um tipo que sempre traz curiosidades a mais sobre bastidores da História e geram comentários perspicazes. Este proporciona saber que Edison não aceitava fazer armas por princípios (ético-fofo). No entanto, ele é um dos responsáveis pelo desenvolvimento da cadeira elétrica. As ironias aqui são uma delícia.
Um ponto interessante é que as imagens são escuras em um filme que trata do início da iluminação para o mundo moderno, o que reforça a sensação de revolução pela luz. Antes de assistir é importante refletir a relevância da invenção.
Consequências da eletricidade
É graças à energia elétrica que a imagem de Nova York iluminada à noite existe no nosso imaginário popular; que Paris iluminada pela torre Eiffel pode ser chamada de cidade luz. A invenção da lâmpada modificou a forma em que enxergamos beleza nas cidades. Também modificou hábitos, e é responsável por encurtar as noites. Talvez, se Edgar Allan Poe vivesse nos dias atuais, o seu corvo não viria a assustar à meia-noite, mas às 3 da manhã. Até a comida congelada é consequência dessa disputa.
O filme, de forma muito eloquente e coerente, mostra o conflito entre os benefícios ou não da chegada da luz elétrica, principalmente, nas críticas explícitas à cadeira elétrica. Ponto mais forte, por mostrar um certo desvio de caráter de Edison.
Gostei de ver falhas comportamentais do grande inventor da lâmpada, o que nem sempre é feito em filmes que mexem com imagens cristalizadas de gênios. Porém, me causou desconforto não ver também esse tratamento para Westinghouse, que fica sempre com um espírito nobre de não descer o nível na discussão.
Valorização oportunista?
Um ponto que me causa conflitos – ainda não sei se me agradou ou desagradou – foi mostrar a inteligência de Marguerite Erskine (Katherine Waterston), esposa de Westinghouse. Uma mulher que entende a revolução, lê bastante e tem conhecimento. Porém, o grande desempenho dela para a trama é aconselhar o marido empresário. Assim como na história cinematográfica, como na História real, ela fica na sombra do marido. Entendo que não é o objetivo do filme, mas poderia haver mais representatividade a ela. Como ficou, mostra a inteligência dela mais como oportunidade de segundo plano para apresentar mulheres fortes do que algo necessário para o desenvolvimento.
A participação de Nikola Tesla (Nicholas Hoult) é importante para o desenrolar, mas nada muito mais do que um coadjuvante na disputa. Por isso nem tem muito a acrescentar na crítica. Ótima atuação, mas é um nem cheira nem fede para a história em si. Inclusive, o homem responsável pela descoberta de campos magnéticos, da transmissão de energia sem fio, e por inventar hidrelétricas merecia mais destaque.
Bom ritmo
O filme tem velocidade, é bem feito, as pontas se fecham. O ritmo, apesar de haver saltos de anos, é bom. Não achei cansativo, muito pelo contrário. A sessão da cabine para imprensa começou sem orientação para qual seria a sala de cinema, e quando os críticos chegaram já havia começado. Depois, a projeção foi reiniciada, e com isso assistimos cerca de 15 minutos do que já tinha passado. Mesmo com parte repetida, a história não me cansou. Digo mais, o filme fez o impossível: me deu vontade de estudar física (quem diria?).
É o filme que traz conhecimento e curiosidades para soltar em um barzinho na roda de amigos. Uma bela homenagem à inovação da luz elétrica e uma contemplação dos “avanços” tecnológicos. Questiona algumas consequências, mas podemos questionar se é uma versão correta dos fatos. Pode ser um pano para manga de novas histórias que se cruzam neste momento. Por fim, é legal de ver.
P.S.: O filme foi produzido em 2017, mas ficou engavetado por dois anos por ser uma produção da The Weinstein Company, que encerrou após os escândalos de assédio do dono da companhia Harvey Weinstein, o que gerou a campanha da hashtag #MeToo e encabeçou uma quase tentativa de revolução em Hollywood, que já deixou muitas sequelas no meio artístico. Harvey foi condenado pelo abuso de mais de 30 mulheres, entre elas a atriz Charlize Theron, que o denunciou. Ele está em liberdade sob fiança.