Personagens clássicos e mais recentes da cartunista brasileira Laerte Coutinho se reúnem na nova animação de Otto Guerra, que também mistura ficção com realidade. Com dublagens da própria artista, diretor e nomes bastante conhecidos, como de Marco Ricca e Matheus Nachtergaele.
O filme é inspirado nas vidas de Laerte e Otto Guerra. Em tela, o público acompanha o segundo durante a difícil e prolongada produção – foram mais de 20 anos de processo – de um filme sobre Piratas do Tietê, renomada série de quadrinhos da primeira. Contudo, as coisas mudam quando a cartunista passa por um processo de afirmação da identidade de gênero e desejo de mudança dos personagens recorrentes. Isso tudo acrescido ao cineasta sendo diagnosticado com câncer.
Para reforçar a linha tênue entre ficção e realidade demonstrada no longa-metragem, a montagem alterna entre animação e vida real, com exposição de gravações de entrevistas de Laerte. Já Otto, apesar de retratado sempre em desenho, dá depoimentos sobre como foi mudar tudo o que tinha planejado para A Cidade dos Piratas em função de achar que seria o último trabalho trabalho feito por ele, devido à doença.
A crítica social é constante. O sexismo e a homofobia são colocados em pauta com frequência, assim como a ascensão de políticos de direita ao poder. Azevedo, personagem claramente inspirado em figuras como Bolsonaro, aparece em momentos de desespero pelo crescimento da “ditadura gay”, como ele enxerga, e tem sonhos eróticos com um touro. Enquanto isso, outro que ganha cena é Ivan, que esconde da família que se traveste.
Para quem não tem um conhecimento prévio sobre o trabalho de Laerte, o filme não faz tanto sentido. É uma obra caótica, que incomoda pelo número de informações misturadas em pouco tempo e causa algumas risadas no espectador. Entretanto, para os admiradores das obras da cartunista e de Guerra, a ida aos cinemas é, sem dúvidas, necessária.