Edith Cushing (Mia Wasikowska) é uma mulher jovem da aristocracia americana na transição da era vitoriana para a industrial. Os irmãos ingleses Thomas (Tom Hiddleston) e Lucille (Jessica Chastain) Sharpe aparecem na cidade em busca de investimento para uma invenção dele. Edith e Tom se apaixonam, mas um mistério no passado dos irmãos se prova um obstáculo para o amor dos dois.
Apesar do que o marketing da produção buscou vender, Colina Escarlate não é um filme de horror. Existem fantasmas na trama e duas ou três cenas assustadoras, mas trata-se de um mistério com pitadas sobrenaturais. O foco maior é a reconstrução da época vitoriana, com direito a homenagens de todos os tipos a romances vitorianos como nos livros da Jane Austen ou Emily Brontë.
O roteiro do Guillermo del Toro com o parceiro antigo, Matthew Robbins, conta com uma linguagem rebuscada, que funciona muito bem. As falas não são complicadas demais a ponto de serem incompreensíveis (como na série Penny Dreadful, que pega pesado no lirismo), mas ainda soam poéticas devido ao período. A trama também cria momentos perturbadores que crescem constantemente em escala. O problema é que é tudo previsível. Com uma hora de duração aproximada, o espectador já sabe quase todas as peças importantes do mistério.
Tom Hiddleston apresenta a Colina Escarlate, mansão que dá nome ao filme.
Ainda assim, a condução do mistério é envolvente, a personagem Edith é simpática e o público se importa com ela. Em grande parte porque o texto é bom. O caráter dela é definido em uma cena com um diálogo no qual ela explica o significado de uma palavra específica. É exposição que não trata o espectador como burro e ainda demonstra quem a ótima personagem é.
Del Toro trabalha o filme através de ambientação. Por mais que a trama não seja de terror, o clima sombrio e opressor dão uma sensação intimidadora. Entre os enquadramentos inteligentes que não escondem as coisas nas sombras, mas criam a impressão de mau agouro, entram a expressividade da arte e da fotografia. Com direito aos usos do verde e do vermelho para representar o mau.
Antes de partir para a Inglaterra, o Vermelho ilumina os cenários para indicar o perigo e a morte. O verde acompanha como contraluz. É quando chega na tal Colina Escarlate que as cores se revelam parte dos cenários. A mansão gótica com ângulos vertiginosos parece gritar perigo e horror no interior. E é justamente o que Edith encontra lá dentro.
Jessica Chastain. Perturbadora e intimidadora.
Del Toro faz cenas de assassinato viscerais, com direito ao uso de efeitos especiais para mostrar visualmente o rosto de uma pessoa se desfazendo contra uma pia. A violência não é estilizada, mas agoniante justamente por ser tão clara e mostrada diante da câmera. A trilha sonora brinca com os estilos vitorianos misturados aos tons sobrenaturais. O gótico combina bem com a estética.
A Mia Wasikowska é ótima como sempre, mas parece desconfortável em algumas cenas. Ela é a razão para que a cena de sexo, que é importante para a história, pareça falsa. Tom Hiddleston equilibra bem a imagem de um homem empático com um passado obscuro e cheio de culpa. Mas é a Jessica Chastain quem brilha como a irmã bizarra e perturbadora. Existe uma insanidade por trás do olhar dela que causa medo. Ainda tem uma participação divertida do Charlie Hunnam como um interesse romântico passado de Edith.
A Colina Escarlate é um filme de estilo. O mistério em si não dá conta de manter a atenção, mas a direção do Guillermo del Toro nunca deixa de sustentar o interesse. Com o grande elenco e uma beleza estética extraordinária, o filme funciona bem. Só é preciso ter a noção de que não é um filme de terror, para não se decepcionar.
GERÔNIMOOOOOOO…