Filmes que tratam de câncer e outras doenças relacionadas com contagem de tempo para a morte são complicados. O peso dessas situações nas vidas das pessoas forçam a um nível básico de melodrama. Quando o filme equilibra bem esse estilo o resultado é bom como em Uma Prova de Amor, mas quando fica mal dosado temos coisas horrorosas como Um Amor para Recordar. Felizmente, A Culpa é das Estrelas está mais para o primeiro que para o segundo.
Hazel é uma garota que tem uma condição complicada em seus pulmões por conta de um câncer que superou devido a um tratamento experimental. Participando de um grupo de terapia, ela conhece e se apaixona por Guz, que também sobreviveu a um câncer, mas ficou sem uma das pernas.
Por algum motivo, o livro que deu origem ao filme fez muito sucesso entre os adolescentes. Porém, vale lembrar que, relacionado ao tema, A Culpa é das Estrelas não faz nada novo. Existem mil e um filmes sobre jovens com câncer que se apaixonam e precisam lidar com o romance tão próximos da morte. O filme não se predispõe sequer a fugir dos clichês. Mas acerta em cheio ao conseguir fazer com que todos os clichês funcionem muito bem.
Hazel não tem sintomas de que o câncer deva voltar, mas vive com dificuldade porque os pulmões se enchem de água constantemente. Por isso ela vive com um tanque de oxigênio para cima e para baixo. A situação resulta em problemas para lidar com maiores esforços físicos, como descer um lance de escadas ou mesmo ficar muito emocionada.
A vida dela é apresentada em diversas camadas. Seus gostos pessoais, seus pais, o namorado e o tratamento. Seus gostos pessoais se resumem a um livro sobre câncer, seus pais são um exemplo de bom humor, o namorado é o foco da coisa e o tratamento é apenas uma condição com a qual ela terá de viver para o resto da vida, considerando que o câncer não vai voltar mais.
Hazel. Bom humor diante da noção da própria morte.
O livro vai ser importantíssimo para o relacionamento dela com Gus. Eles querem compreender o final deixado em aberto na obra e resolvem correr atrás do significado. A busca é, em diversos níveis, a busca pela segurança da mãe. Em uma cena muito bonita e sutil, Hazel vê a mãe desesperada com sua possível morte. Daí em diante, sua relação com a própria doença é de passividade. Ela faz tudo o que é preciso para dar paz para os pais pois sabe, de acordo com a própria personagem, que “pior que ter câncer é ter um filho com câncer.” E o filme trata disso com muita sensibilidade sem ser super expositivo. O momento define a vida de Hazel, mas nunca é explicado ou repetido sem necessidade. E o final em aberto do livro reflete a vida em aberto da mãe após a vindoura morte de Hazel.
Esse comportamento define também uma visão mais negativa do mundo. Enquanto Gus possui uma visão mais determinista. A brincadeira se encontra no fato de que, apesar de verem o universo de maneiras opostas, os dois chegam à mesma conclusão. É preciso aproveitar ao máximo o tempo de vida que têm.
Visões de mundo opostas que levam ao mesmo lema de vida.
A história se desenvolve ao redor de momentos que brincam com esse tipo de contraste. Um personagem que quer ouvir os discursos de seu enterro antes de morrer ou usando um cigarro como metáfora para a incapacidade do fumo de matá-lo quando não é aceso. O que é mais mérito do texto original que do roteirista ou do diretor.
O grande mérito dos realizadores fica por conta de excelentes cenas como a visita à casa da Anne Frank. Ela representa tantas coisas e é tão bem construída que chega a ser admirável de tão bonita. Infelizmente, logo em seguida, surge uma coisa muito piegas que arruína toda a construção anterior. Já na hora de entrar no melodrama obrigatório, o filme não decepciona. Tem todos aqueles momentos típicos de lágrimas, mas não fica pesado ou forçado. Eles entram nas horas certas e nunca se estendem mais do que deveriam. Com exceção do final do filme em que o voice-over da personagem principal toma conta e termina a produção com uma sensação de explicação desnecessária.
O elenco é excelente. A Shailene Woodley segura com tranquilidade todas as cenas mais complicadas, até os momentos em que Hazel perde o fôlego com pouco esforço. O parceiro da vez, Ansel Elgort, tem uma cara de bobo inacreditável, mas trabalha tão bem que supera o visual. O Willem Dafoe rouba a cena com sua rapidíssima participação, na qual parece estar se divertindo muito. A Laura Dern acrescenta brilho como a mãe de Hazel. Pena que ela não aparece com mais frequência nos cinemas, é simplesmente uma atriz brilhante. O pai interpretado pelo Sam Trammell (mais conhecido por True Blood) não fica apagado. O ator segura as pontas de estar ao lado da interpretação poderosa de Dern, mesmo não sendo tão bom quanto ela.
Não é, de forma alguma, o filme mais bonito ou triste sobre o câncer, mas é dono de muita beleza e relevância dentro de sua abordagem. Para aqueles mais sensíveis, prepare-se para levar alguns lenços e chorar bastante. Para os menos, há espaço para muitas reflexões curiosas.
FANTASTIC…
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