Ambientado no início do século XVIII, durante um período de guerra entre a França e a Inglaterra, o filme é inspirado na história da rainha britânica Anne. Apesar de ter a última monarca da Casa Stuart como foco, a sátira à corte da época é muito maior do que a fidelidade aos fatos históricos.
Na maior parte do tempo incapacitada de cumprir as obrigações do reinado devido a uma grave doença que provoca dores constantes, Anne (Olivia Colman) conta com a amiga – ocasionalmente amante – Lady Sarah (Rachel Weisz) para agir por ela. Esta toma, inclusive, decisões estratégicas referentes à guerra, enquanto a outra tenta se recuperar. A rotina muda quando a serva Abigail (Emma Stone) aparece na corte e dá início aos longos conflitos na relação. Tudo para poder voltar a fazer parte da nobreza.
Enquanto disputam pelo posto de maior confiança da rainha, com direito a muitas bajulações, Abigail e Sarah, primas de longa distância, proferem inúmeros insultos em um roteiro diferente do esperado para um drama de época. De Deborah Davis e Tony McNamara, o texto em tela conta com diálogos em alta velocidade e linguajar atípico, o que causa estranhamento e, ao mesmo tempo, risadas ao espectador.
As três atrizes principais entregam atuações fantásticas, sendo o grande destaque Olivia Colman, que, mesmo estando em diversos momentos em uma cadeira de rodas, impressiona. As personagens ganham o carinho do público à medida que mostram que os papéis de vilã e “boa moça” podem ser dados a uma mesma pessoa, a depender do contexto. Enquanto em uma cena Sarah detém a torcida, na próxima Abigail prova ser uma boa concorrente.
A produção não peca de forma alguma ao tentar reproduzir cenários, maquiagem e figurinos que remetem ao início dos anos 1700. Cada mínimo detalhe é pensado para deixar os largos cômodos e jardins fidedignos. As roupas magníficas são assinadas por Sandy Powell, que também tem no currículo renomados longas-metragens como Shakespeare Apaixonado, Entrevista com o Vampiro e Carol. A fotografia e a montagem são outros pontos altamente positivos.
A Favorita é um filme sem erros que mereçam ser mencionados. É uma grande obra que é digna de todas as 10 indicações ao Oscar deste ano. Com mulheres fortes e belas atuações, reforça a representatividade feminina no cinema. E ainda tira sarro de uma sociedade em que tudo era movido pelo interesse ao alto status e riqueza. Ao invés de despertar no espectador uma vontade de ter vivido naquela época devido ao glamour e modelo de sociedade, como acontece em diversas produções históricas, mostra o quão ridículos eram certos aspectos.