Michael Burry (Christian Bale) prevê um colapso no mercado imobiliário estadunidense e decide apostar contra o sistema, com o investimento de uma enorme quantidade de dinheiro do fundo que coordena. O corretor Jared Vennet (Ryan Gosling) descobre a operação e passa a apresentá-la aos clientes do banco em que trabalha. O ocorrido também chega ao conhecimento de Mark Baum (Steve Carell), experiente na Bolsa de Valores, além dos iniciantes Jamie Shipley (Finn Wittrock) e Charlie Geller (John Magaro), que recorrem a Ben Rickert (Brad Pitt) para auxiliá-los.
A Grande Aposta é inspirado no livro homônimo, de Michael Lewis, que trata sobre a história real do colapso da bolsa de valores, ocorrido em 2008. A direção é de Adam McKay (Tudo por um Furo), que divide o roteiro com Charles Randolph (Amor e Outras Drogas). Atores de grande renome formam o elenco e entregam interpretações marcantes. O diretor, ao mesmo tempo em que quer expor os fatos que desencadearam a crise imobiliária, procura entreter o espectador com um filme que navega entre o drama e a comédia, e utiliza o deboche para criticar a sociedade capitalista exacerbada.
Com a quebra da quarta parede (feita principalmente pelo personagem de Ryan Gosling, que também ocupa papel de narrador), o longa-metragem dialoga com o público, enquanto explica situações e termos utilizados em Wall Street. Para esclarecer alguns conceitos, são feitas aparições das atrizes Margot Robbie e Selena Gomez, do chef Anthony Bourdain e do economista Richard Thaler. Os famosos interpretam eles mesmos e fazem analogias para simplificar definições.
Bale como Michael Burry. Descobridor da quebra da bolsa.
Essa não é a única referência à cultura pop que é feita no filme. A Grande Aposta apresenta uma montagem de clipes, entrevistas de famosos, músicas, imagens, vídeos virais, entre outros, que denotam ao gosto popular e ao american way of life. Com isso, nota-se como a população vivia sua vida, com várias preocupações desnecessárias sem imaginar a bolha que estava prestes a estourar no mercado imobiliário.
A trama é composta por personagens muito bem construídos, principalmente os de Bale e Carell, que entregam as melhores interpretações. Junto ao de Pitt, Steve Carell expõe o lado da crise que vai além dos lucros que eles poderiam ter, e tange a vida de milhões de pessoas que perderão o emprego e/ou acabarão com o próprio sonho da casa própria. Ryan Gosling interpreta o estereótipo de um corretor de ações da Wall Street, focado exclusivamente no lucro.
O filme tem traços semelhantes a um documentário, como a montagem de vídeos e imagens, além das partes que contêm narração. A história flui de de forma frenética e, assim, pode ser comparada à rapidez que as coisas ocorrem na bolsa de valores. Desse modo, não deixa espaço para o espectador perder a atenção e o foco. Mas, antes, é preciso se acostumar com a movimentação nervosa da câmera, que usa o recurso de close-up em demasia e altera o zoom constantemente.
Steve Carell e Ryan Gosling. Preocupados em entrar no jogo.
A Grande Aposta faz uma crítica ao capitalismo selvagem, ao mostrar que o interesse financeiro quase sempre acaba por prevalecer ao social. À medida que se retrata os bastidores que levaram à bolha imobiliária, que deixou 8 milhões de pessoas desempregadas e 6 milhões sem casa, descobre-se o quão fraudulento é o mercado. Só uma pessoa foi presa por fraude, apesar da grande quantidade de criminosos. Esse cenário pode ser tranquilamente comparado com o contemporâneo, no qual à futilidade muitas vezes prevalece e as pessoas insistem em permanecer cegas, de modo a não enxergarem o que realmente está por trás do capital.
Apesar do esforço de McKay em tornar o filme didático, ele não é o suficiente. Alguns termos são esclarecidos, porém, para quem não tem um conhecimento prévio, ficam diversas dúvidas. Isso é um pouco compensado pelo ritmo e os recursos utilizados, que deixam a história divertida e com um quê de niilismo. Com o término do filme, fica o alerta: o que acontece na bolsa de valores neste momento?
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