Não é preciso muito para convencer um fã de cinema a assistir este A Grande Mentira. Basta olhar os nomes da duas grandes estrelas do elenco para se decidir. Há vários motivos para gostar de uma produção. Pode ser boa história, bons diálogos, bom jogo de câmeras, belas fotografias, e, como é o caso aqui, interpretações magnéticas.
Nem é preciso dizer que é um deleite ver Ian McKellen interpretar Roy Courtnay, um golpista idoso que busca uma última grande trapaça antes de se aposentar. A experiência é ainda mais forte com a futura vítima dele, Betty, que é interpretada por Helen Mirren. Os dois se conhecem em um aplicativo de relacionamentos para pessoas mais velhas e criam afinidade. Mas ela não parece consciente que o interesse dele é voltado exclusivamente para a pequena fortuna guardada em alguma conta.
É um típico filme de suspense de golpe, sem muita novidade. Mas o subgênero não busca muito mais que diversão com reviravoltas e cenas tensas. E é isso que o diretor Bill Condon e o roteirista Jeffrey Hatcher querem entregar nesta adaptação do livro homônimo de Nicholas Searle. Há uma trama leve e rápida que acompanha esses personagens até o fim. Algo na linha que fazia com que Alfred Hitchcock tivesse muito sucesso.
Condon dirige quase com tom intimista, com planos próximos e muitas sombras. Isso realça a sensação de suspense e de que os personagens escondem algo entre si. Além disso, o diretor de fotografia Tobias A. Schliessler dá dicas de pequenas surpresas da trama com uma lente com foco levemente profundo. Todo enquadramento tem apenas um objeto, personagem ou cenário focado. O resto fica com um borrado fraco.
A técnica serve a dois propósitos. Primeiro, orienta a visão do espectador, que procura inconscientemente o que estiver focado. Mas mais importante, reflete a trama, em que pequenos segredos e mentiras estão escondidos por toda parte. E Condon tem confiança no texto de Hatcher, porque permite que pequenas dicas apareçam por toda parte em cortes secos durante momentos de interpretações dos atores, ou até por colocar olhares que dizem muito.
Isso porque o texto é realmente bem escrito. Os diálogos parecem naturais, em grande parte devido aos excelentes atores, mas também escondem nas entrelinhas. Sejam motivos para ele não querer uma viagem que ela quer muito fazer, até a forma como alguns golpes apresentados no filmes revelam como a grande surpresa pode ocorrer.
No entanto, Hatcher e Condon não conseguem esconder o grande defeito da trama original do livro. A maior parte das reviravoltas são impossíveis de serem previstas, por mais que existam pistas pelo filme. É muito fácil surpreender o espectador quando não tem nada que indique o que é a verdade completa da produção.
Ainda assim, a combinação de suspense e texto divertidos garantem a condução do filme. E a reflexão final sobre culpa e punição também enriquece muito as discussões após a sessão. Mas o melhor de tudo é notar as nuances das interpretações dos dois protagonistas. McKellen expira vitalidade nos olhares que avaliam tudo de Roy, enquanto Mirren esconde muito de quem é Betty em rápidas mudanças de posições de câmera e em cortes de cenas. São dois veteranos talentosos que reforçam o trabalho um do outro.
O resultado é exatamente o que se propõe, um suspense divertido, rápido, vigoroso e com alguma reflexão. Mesmo que a reflexão não seja duradoura e as não reviravoltas deixem a desejar, é difícil sair do cinema após A Grande Mentira sem uma sensação positiva.