Desde que a chamada era do pós-horror começou, um dos grandes marcos e que mais recebe comparações é o excelente A Bruxa. O tal movimento tem dividido críticos e especialistas sobre o que ele é, e sobre a qualidade. E como em toda moda no cinema, chegam versões de surpresa de outros lugares do mundo. É assim que o israelense A Lenda de Golem aparece nos cinemas.
Uma vila judaica do século 17 é atacada por vizinhos cristãos que foram atingidos pela peste. Eles acreditam que os judeus lançaram uma maldição sobre as crianças deles. Em desespero, Hanna (Hani Furstenberg) usa os aprendizados avançados sobre as escritas antigas da religião para dar vida a um golem. Uma criatura de terra capaz de matar pessoas de forma sanguinolenta. Mas o bicho surge em forma de criança e a faz lembrar do próprio filho, que morreu em um acidente anos antes.
Com uma vila religiosa em um filme de época, fotografia estática com belos enquadramentos que misturam a natureza com as cabanas antigas, e temas como as demonizações inadequadas da mulher, é difícil não comparar. No entanto, este A Lenda de Golem se afasta do outro filme ao propor um horror mais relacionado a imagens violentas.
Isso porque a dupla de diretores Doron Paz e Yoav Paz não estão interessados em fazer com que o horror se reflita no cotidiano dos personagens. Com uma trilha sonora que teima em ambientar cada momento, mesmo os que não precisam dela, o filme corta rapidamente nos planos de ambientação e insere nas cenas mais movimentadas planos de câmera lenta com alto contrates.
Com isso, criam uma estilização que remete muito a outros diretores, como o Zack Snyder. No entanto, a história escrita por Ariel Cohen não tem o mesmo ritmo da montagem. Pela primeira metade da produção, Hanna sofre por ser obrigada a estudar em silêncio enquanto recebe desmerecidas reprimendas dos homens por não fornecer um segundo filho para o marido.
A atriz, Furstenberg, esconde a cada resposta e a cada baixar de cabeça uma dor que nunca é pronunciada. O que a aflige só vem a ser revelado com mais da metade da duração, quando as motivações dela se tornam clara. Uma pena que a interpretação dela não é suficiente para carregar o ritmo irregular do filme. Em um momento é lento demais, no outro acelerado e inconsistente.
O mesmo ocorre com os momentos de terror. Em um momento, o menino se esgueira e se protege. No próximo, anda abertamente em meio à população enquanto revela os poderes para todos verem. Nem mesmo o medo do desconhecido se sustenta. Fica apenas a imagem de uma criança com porte imponente e muitos efeitos especiais sem sutileza.
Talvez, nas mãos de diretores mais experientes, A Lenda de Golem tivesse um ritmo mais coeso. Como a dupla de diretores deixou, parece não saber a quem quer agradar. Em certo ponto, é lento e introspectivo, como discussões valorosas. Em outro, vai abertamente para o horror gore e cheio de violência acelerada, em busca de entretenimento rápido.