Não é incomum que pessoas argumentem a favor de um filme ao dizer que a produção os fez chorar. No entanto, fazer alguém chorar é fácil, basta apontar algo que mexa com certas emoções e remoer isso. Pode ser um cachorro moribundo, uma criança com câncer ou qualquer coisa do tipo. A diferença está em como se explora o melodrama. E Gus Van Sant dá uma aula disso neste A Pé Ele Não Vai Longe.
Seria fácil seguir o caminho do melodrama com a história real de John Callahan (Joaquin Phoenix), um alcoolista que sofre um acidente de carro e se torna paralítico. Agora, sem o movimento do peitoral para baixo e com dificuldade de usar as mãos, ele percebe que precisa largar o vício em bebida e participa de um grupo apadrinhado por Donny (Jonah Hill) enquanto explora o potencial de artista como cartunista.
E Van Sant acompanha essa jornada pessoal através dos famosos 12 passos dos alcoólatras anônimos. Para quem não sabe, é uma lista com 12 coisas que o viciado deve fazer no processo para viver sem a droga. A diferença é que o diretor escolhe apenas seguir as situações sem reforçar o drama com músicas tocantes e closes em rostos sofridos.
Além disso, o título já deixa claro como é a perspectiva de Callahan em relação à própria condição. Trata-se de uma piada em uma das tirinhas dele, na qual um grupo de policiais caça um cadeirante e encontra apenas a cadeira. O xerife diz o nome do filme. É quase cruel, mas também é um jeito de se permitir rir do que não se tem controle.
E assim, entre humor negro e muito sofrimento, Callahan aprende a ser positivo em relação à própria vida. Não é preciso explicar isso detalhadamente. Sant escreve uma cena em que o protagonista percebe que a vida, mesmo preso na cadeira, é melhor que a de uma pessoa sem deficiências, mas ainda presa aos vícios. Nada de grandes epifanias com músicas emocionantes. É apenas natural.
Para isso, o diretor e roteirista (com base em livro de Callahan) faz as cenas como se fossem filmadas por um documentarista da época em que o personagem passou pelos 12 passos. Assim, as imagens têm um forte granulado na fotografia e a câmera é tremida. Como se o cinegrafista tentasse acompanhar quais as coisas importantes a serem filmadas no momento em que elas ocorrem.
Nesse sentido, Van Sant direciona os atores para interpretações naturalistas. Mesmo em grandes brigas ou quando se perdem nas próprias tragédias, eles são capazes de rir de si mesmos. Como todo mundo é capaz na vida real. Daí entra o ótimo trabalho de Phoenix, que muda os trejeitos de bêbado para sóbrio e de pessoa sem deficiência para uma com. Isso sem deixar de fazer com que o personagem seja o mesmo em todas as situações.
Hill está em uma fase ótima. Como comediante, ele serve bem à perspectiva de Donny de brincar com a situação em que vive, mas sem perder a tristeza do personagem por trás do riso. Outro destaque é uma ponta do Jack Black como outro alcoólatra que sobrevive ao mesmo acidente de Callahan. Ele sabe fazer as extravagâncias de um bêbado que quer farrear, e a tristeza do dia seguinte, quando está sóbrio.
Se tem um problema no filme, é a montagem, que transita entre situações extremamente diferentes e deixam o espectador confuso. Callahan, em uma cena, discursa para uma plateia sobre as superações da vida que conduziu, para na próxima estar no ápice do alcoolismo. Chega a demorar para entender, em todos os momentos da primeira metade do filme, se ele está sóbrio ou bêbado.
Como história, a de Callahan não é comum, mas existe em um mundo ordinário. E Van Sant sabe que é assim que deve contá-la. As conquistas e superações são extraordinárias, mas existem apenas ali dentro da casca normal do personagem e não ressoam com a mesma grandeza para outras pessoas. E isso torna tudo ainda mais impressionante e significativo.
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