Postado em: Reviews

À Procura do Amor

enough_said

Todo mundo que gosta de comédias românticas tem uma boa notícia. Todos aqueles que não gostam também. Porque um bom filme vai além de um gênero. E essa comédia romântica é ótima.

Eva é uma massagista que está se acostumando à ideia de que sua filha vai sair de casa. Em uma festa, conhece duas pessoas novas. Uma nova cliente que se tornará uma amiga e um possível interesse romântico, Albert. Os novos relacionamentos correm bem até que Eva descobre que os dois já foram casados e que literalmente, as pessoas de quem falam mal são as pessoas com quem convive.

Eva e a nova amiga. Conversas sobre relacionamentos acabados.
Eva e a nova amiga. Conversas sobre relacionamentos acabados.

O roteiro é bem simples e até clichê. Casal se conhece, a química entre os atores é boa e os diálogos são divertidos. Então surge um problema que vai imperdir o romance. Não há nada de novo aqui. A qualidade está na forma como isso é retratado.

Normalmente comédias românticas descambam para cenas pastelonas. O conflito é algo bobo, baseado em algum tipo de imaturidade de algum dos protagonistas e a conclusão é sacal e previsível. Mas não é o caso deste filme.

O filme não trata o amor romântico como solução para todos os problemas da vida. É um dos grandes problemas do gênero. É de uma ingenuidade irritante. É um dos acertos aqui. Os personagens gostam de estar em um relacionamento, mas sabem que existem outras prioridades que são mais importantes. Principalmente considerando que os dois protagonistas tem filhos.

A diretora Nicole Holofcene sabe construir toda uma realidade que faz a diferença. A história se passa no mundo de pessoas passando por crises de meia idade, então seus problemas envolvem casamentos desgastados, filhos adolescentes e ex-cônjuges.

Para criar esse mundo, Holofcene cria diálogos que expiram normalidade. São pequenas falas que demonstram claramente as dificuldades comuns de iniciar uma conversa com outra pessoa. Nada brilhante ou genial em termos de escolha de palavras, apenas uma representação do cotidiano. E isso acrescenta muita qualidade ao filme porque todo mundo é identificável.

O elenco afiado deixa tudo melhor. Julia Louis-Dreyfuss, James Gandolfini, Catherine Keener e Toni Collette sustentam essa vulnerabilidade da rotina. Quando começam um diálogo, parecem não saber o que os espera em termos de conversa e como deverão reagir ao que será dito.

Principalmente o casal principal, Dreyfus e Gandolfini. Conhecidos por séries de TV, se despem de seus papeis comuns e demonstram como são bons atores ao abraçarem esse medo e vontade de se compreenderem.

Como todos os grandes filmes de gênero, a trama serve a uma reflexão. Aqui são várias em diversos níveis. O filme possui muitas camadas. Enquanto Eva precisa se adaptar com o afastamento da filha, acaba se aproximando de uma amiga dela. Um casal de amigos reflete precisamente os problemas que ela costumava ter em sua própria união matrimonial. Ainda tem também o problema principal que é o namoro com Albert.

Eva com a amiga da filha. Perdida em seus relacionamentos.
Eva com a amiga da filha. Perdida em seus relacionamentos.

Com a descoberta da confusão, Eva percebe uma possibilidade. Quando se casou pela primeira vez, já sabia dos defeitos do ex. Depois de anos se separaram por conta deles. Agora ela tem a possibilidade de conhecer os defeitos ainda antes de começar o namoro. O que não percebe é que os pontos de vista da nova amiga estão envenenando o relacionamento.

Ela começa achando graça de um defeito, mas depois de analisar demais começa a ficar incomodada com quase tudo o que ele faz. Mas eis o problema, todo mundo tem defeitos. Alguns se adequam melhor a certas pessoas que outros. Eva parecia se adequar muito bem a Albert, até deixar os defeitos dele falar mais alto.

O final é previsível. Mas mesmo sabendo o que vai acontecer, não sabemos como. Acredite, não veremos um dos dois correndo atrás do outro em um aeroporto ou coisa do tipo. É tudo sobre os diálogos. A história é contada através deles e das interpretações.

Felizmente, o filme é muito bem escrito e interpretado. Não pretende ser grandioso nem fazer as pessoas chorar ou rir. Mas em sua normalidade consegue ser mais tocante que a grande maioria das produções que passam por aí.

 

FANTASTIC…

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *