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A Sombra de uma Dúvida

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O Hitchcock tem filmes fracos, ruins, bons, ótimos e uma grande quantidade de maravilhas. A única coisa que sabia sobre A Sombra de uma Dúvida é que o filme se encontra entre os favoritos do próprio diretor. E agora se encontra entre os meus favoritos também.

A família Newton recebe a notícia de que o tio Charlie está vindo fazer uma visita. Junto com ele surgem dois homens tentando investiga-lo. Sua sobrinha querida, que possui o mesmo nome que ele, tenta ajudar enquanto vai descobrindo os motivos dos estranhos.
Não é preciso ir longe para lembrar do recente Segredos de Sangue. Existem diversas semelhanças. Os dois tem um misterioso tio Charlie que surge depois de tempos estando distante, os dois tem uma ligação estranha entre o tio e a sobrinha protagonista. Os dois tem diretores gênios por trás das câmeras.
A diferença é que Segredos de Sangue trata mais da ligação entre a garota principal com o tio. A Sombra de uma Dúvida foca mais em uma rivalidade.
A jovem garota Charlie ama seu tio de quem recebeu o nome. Eles são tão próximos que Hitchcock chega a sugerir um nível de telepatia entre os dois. A garota tem a ideia da visita do tio no mesmo instante que ele tem. Mais tarde os dois dividem lembranças musicais. Ela começa a lembrar de uma valsa importante para eventos recentes na vida do tio.
É bem óbvio que a figura que ela tem do que um homem deve ser é a do tio. Por isso mesmo a garota se esforça constantemente para ajudar a manter os homens misteriosos longe dele. A interação entre eles chega ao extremo de dar a impressão de que há algum tipo de relação incestuosa.
Mas é só quando ela, junto com o espectador, descobre o segredo é que o filme decola. Surge um perigo constante na casa e o suspense não para.
O diretor clássico usa comédia aqui e ali para dar um bem vindo alívio na tensão. É impossível não temer pela vida da jovem Charlie ao mesmo tempo em que é muito fácil compreender suas escolhas duvidosas.
O toque do diretor se encontra em como usa os enquadramentos para contar a história. Logo no começo apresenta os dois Charlies colocando-os na mesma posição, mas em sentido contrário. Mesmo estando a quilômetros de distância, fica a noção de que são a mesma pessoa, mas com orientações divergentes.

"Tá olhando o que, tio Charlie?"
“Tá olhando o que, tio Charlie?”

Mais tarde ele cria um plano detalhe do tio enquanto este faz um discurso bastante significativo. Ao final, a tela está ocupada com o rosto do ator quando ele vira para câmera e olha diretamente para nós.
O inglês rechonchudo também usa a fotografia de forma poderosa. O título do filme é muito adequado. Quando é preciso insinuar a ameaça de um personagem sobre outro, ele cria longas sombras que saem de um ator para invadir o espaço do outro.
É repleto de representações da história através de imagens simbólicas. O filme começa com o tio entrando e saindo da casa de forma bem discreta pelas entradas dos fundos. Quando chega ao terceiro ato nota-se que a casa foi tomada por ele e que a garota é quem precisa se esgueirar pelos cantos como se fosse uma invasora.
"A casa agora é do titio aqui."
“A casa agora é do titio aqui.”

Os dois atores que interpretam os dois Charlies são excepcionais. Teresa Wright é a linda e atraente sobrinha que fica dividida entre dois homens, o tio e um possível interesse amoroso. Preciso procurar mais coisas com ela. Já Joseph Cotten brinca entre o perturbador e o carismático com o tio.
Demonstração grandiosa do gênio de Hitchcock. Cinema como pouquíssimos filmes conseguem ser de verdade.
 
ALLONS-YYYYYYYY…

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