Ao contrário de como constava anteriormente no texto, Adoráveis Mulheres é a sexta adaptação do livro de Louisa May Alcott.
Adoráveis Mulheres (2019) é a sexta adaptação para o cinema do clássico romance de Louisa May Alcott, publicado primeiramente em duas partes, em 1868 e 1869. A primeira versão para o cinema é de 1917, em um filme mudo considerado perdido. O livro ganhou os cinemas no ano seguinte, e depois em 1933, em 1946 e em 1994. No longa mais recente, roteirista e diretora Greta Gerwig retoma a parceria com Saoirse Ronan de Ladybird, e traz também Laura Dern, Emma Watson, Florence Pugh, Eliza Scanlen, Timothée Chalamet e Meryl Streep no elenco. O filme conta a história das irmãs March: Meg (Watson), Jo (Ronan), Emma (Pugh) e Beth (Scanlen) durante a Guerra Civil Americana, quando o pai delas serve no exército e a mãe luta para sustentar a família e ajudar a todos que pode.
No aspecto narrativo, Adoráveis Mulheres exibe o melhor trabalho de Gerwig como roteirista. Ela decide acertadamente modificar a estrutura linear da narrativa do livro, explorando assim as capacidades de justaposição do cinema, mostrando momentos da vida das meninas March enquanto jovens, contrastadas com suas vidas adultas. Essa estratégia permite a comparação de eventos e atitudes das personagens, mostrando suas evoluções humanas sem se debruçar muito nas dificuldades e sofrimentos passados,e sem subestimar a inteligência da audiência. Greta também consegue colocar a sua personalidade e humor com sutileza na trama, mantendo a intenção e construção temporais da trama.
O elenco faz um trabalho primoroso, em especial as 4 irmãs. A química em cena é sensível, principalmente em alguns momentos do primeiro ato, onde estabelecemos a relação entre elas. A presença das irmãs em uma sala é quase opressora, como um vendaval que leva o caos e a instabilidade, na melhor das intenções. Essa característica é importante no início do longa, pois é a partir dessa percepção que passamos a enxergar o crescimento individual de cada protagonista, e assim como já feito em Ladybird, Gerwing explora esses relacionamentos familiares com humor e originalidade.
Destaque maior no elenco para Saoirse Ronan como a intempestiva e resoluta Jo March. É através dela que podemos perceber de forma mais intensa as inserções de modernidade colocadas por Gerwig na obra. Sua busca incessante pela carreira de escritora e pela liberdade e amor utópicos, conquistados apenas por personagens de romances, faz de Jo um expoente da voz de Greta enquanto realizadora, e de muitas mulheres contemporâneas.
Adoráveis Mulheres utiliza algumas técnicas de iluminação para separar os momentos de passado e presente. Toda a textura dos momentos passados é mais brilhosa e com uma luz quente e amarelada, enquanto o presente é iluminado com tons mais frios. Metaforicamente essas mudanças podem ser também interpretadas como o passado refletindo um período de maior felicidade e inocência. O design de produção é certeiro sendo capaz de entregar as cores, texturas e movimentos esperados de um filme de época, sem perder o brilho e a jovialidade da obra. A direção de atores também é bem realizada, é perceptível como todo o elenco é capaz de se encontrar em seus personagens e suas sagas.
Adoráveis Mulheres é sensível, engraçado, atemporal. O longa possui o potencial para ser um dos grandes filmes da temporada, e firma cada vez mais a posição de Greta Gerwig como uma das vozes desse cinema contemporâneo americano, juntamente com nomes como Jordan Peele e Sean Baker.