Além da Escuridão estreia por aqui dia 14 de junho. Mas, por algum motivo, a Paramount realizou uma pré-estreia massiva através do país. Ontem, ao redor das 21h o filme foi exibido em diversas salas do grande circuito comercial. Como grande fã do primeiro filme, e fã mediano da franquia, não perdi a oportunidade de garantir minha cópia dos ingressos.
Depois de diversas operações como capitão da Enterprise, Kirk aspira pela oportunidade de colocar sua tripulação e sua nave na missão de 5 anos de exploração espacial com o objetivo de descobrir novas civilizações em novos planetas. Mas sua capacidade no posto é questionada por sua imprudência e irresponsabilidade. Ao mesmo tempo um terrorista chamado John Harrison ataca uma biblioteca em Londres, o que acarretará em diversas complicações para a Frota Estelar e para o próprio Kirk.
O filme de 2009 buscava mostrar a origem da tripulação clássica sem perder as características da franquia. Aqui, o objetivo é tratar do que é estar na Enterprise. As obrigações, as responsabilidades, os custos. Kirk, Spock e companhia aprendem da forma difícil que cada conquista requer sacrifícios.
JJ Abrams mantém seu poder inabalável de direção. Sua capacidade de criar cenas de ação envolventes e repletas de suspense é impressionante. Cada momento de tensão é uma cena bem construída, cheia de possibilidades negativas e aparentemente sem esperança.
Em certo ponto, Kirk e outro personagem precisam fazer uma transição altamente improvável entre duas naves. Os dois são arremessados através do espaço. O trajeto é enorme e cada metro é um perigo constante. Não fosse o bastante, pequenos obstáculos aparecem aqui e ali. A possibilidade de sucesso é cada vez mais remota e a tensão nunca deixa de crescer.
É uma direção eficiente aliada a um roteiro inteligente. A parceria do primeiro filme, Roberto Orci e Alex Kurtzman, ganha o acréscimo do Damon Lindelof e resulta em uma melhoria de tudo o que já era bom.
Não é apenas um triunfo em construção de cenas de suspense e ação. O roteiro é inteligentíssimo. A trama é muito elaborada, mas conduzida através de situações tão eloquentes dentro de cada contexto que as reviravoltas não deixam o espectador ficar perdido. Muito pelo contrário, a linha de raciocínio é fácil de entender, apesar de todas as complicações.
A fotografia é mais do mesmo. Aquela montoeira maluca de lens flare ocupando os enquadramentos. A ideia, de acordo com Abrams, é fazer com que o futuro no filme seja iluminado, com a tecnologia ofuscante. Para alguns funciona, para outros não.
A direção de arte é obrigada a repetir algumas coisas. Afinal, a Enterprise continua a mesma, assim como os uniformes, as armas e tudo o mais. Mas como um bom filme de aventura espacial, novos elementos alienígenas são apresentados, como uma floresta de vegetação avermelhada, klingons, algumas características militares mais obscuras. O universo não é colorido nem exagerado demais, mas ainda é o bastante para que tudo sinta novo e realista ao mesmo tempo.
É interessante ver referências como a abertura que lembra levemente o começo de Caçadores da Arca Perdida. Mas as mais interessantes são as referências ao próprio universo de Star Trek. Coisas pequenas de diversos episódios das séries aparecem aqui e ali. Principalmente do filme A Ira de Khan. Diversos momentos são reinventados de maneiras inesperadas. Alguns certamente exigiram coragem dos realizadores.
Durante a jornada, Kirk aprende aos poucos os motivos pelos quais as regras existem e porque elas devem ditar seu código de conduta. Spock, por outro lado, precisa trilhar a jornada inversa. O vulcano é forçado a aceitar certos traços de sua natureza sentimental, o que o obriga a se abrir sobre diversos elementos relacionados a seus medos e suas afeições.
A trama de terrorismo remete bastante à Guerra Fria e a outros elementos políticos que infelizmente nunca envelhecem. Mas as analogias ficam fracas em contraste com o desenvolvimento dos personagens.
Os atores estão ainda melhores que no filme anterior. Chris Pine deixa de lado os cacoetes exagerados de William Shatner e assume de vez o personagem com suas próprias construções. O Spock de Zachary Quinto é o equilíbrio perfeito entre a lógica total dos vulcanos com as emoções humanas. O resto da tripulação fica um pouco de lado, mas a causa é boa, dar espaço para a ótima trama principal.
Quem rouba a cena é o Benedict Cumberbatch. O britânico cria um vilão impressionante. Sua ameaça e presença são constantes. Seu John Harrison parece indestrutível e infalível.
O 3D convertido incomoda aqui e ali. É um das conversões mais bem feitas. Mas como toda conversão, apresenta suas falhas através da exibição. Não atrapalha o filme e só é notável pelos mais observadores. A profundidade responde muito bem aos métodos de Abrams de filmagem. O diretor constrói suas cenas com focos profundos e planos longos. mesmo as menores em ambientes pequenos. Não precisa de falas, os movimentos das câmeras explicam a história. O 3D encaixa bem com tudo isso.
Outro problema com a terceira dimensão também se dá com os cortes acelerados. Algumas cenas são muito rápidas, com planos passando igual bala pela tela. O 3D quase não é perceptível e até atrapalha a compreensão do que foi visto. Com o tempo é possível se acostumar, mas fica um pequeno incômodo.
Em alguns momentos, o filme se perde com coisas pequenas feitas para divertir sem compromisso, como a semi-nudez da personagem Doutora Carol Marcus. Até o diretor admitiu publicamente que foi gratuíto. Ainda assim, não há como dizer que o take é visto de forma negativa pelos espectadores masculinos.
Já é um dos melhores filmes do ano. Com poucas possibilidades de ser superado. Cenas de ação memoráveis, um roteiro maravilhoso, tudo misturado com cuidado pelas mãos habilidosas de Abrams.
FANTASTIC…