Além da Morte é um filme difícil de entender. Remake do filme que não foi um grande sucesso em 1990, Linha Mortal, ele é dirigido por Niels Arden Oplev, o mesmo da trilogia Millennium sueca. Por que um diretor com certo prestígio, assim como atores como a Ellen Page e o Diego Luna, aceitariam fazer essa mistura de suspense e ficção científica sobre as consequências de explorar os limites da ciência?
Nem a premissa básica muda. Grupo de estudantes de medicina fazem experiências com paradas cardíacas para levantar dados sobre o que ocorre com o cérebro no momento da morte. Entre consequências imediatas, como sentidos atenuados, eles são atacados por representações de culpas do passado. Entre eles, Courtney (Page) passa a receber visitas da irmã que morreu em um acidente de carro provocado por ela.
Como um enredo desses exige, é preciso que exista um equilíbrio de gêneros e de ritmos. Há o lado de horror em que os personagens são atormentados, o de dramas pessoais relacionados com culpa, e o de ficção científica. E é justamente esse o grande problema de Além da Morte, não ter personalidade.
À princípio, o filme sobre as descobertas e as consequências científicas. Os personagens sentem mais vida, aproveitam mais os momentos e questionam os próprios objetivos e como a parada cardíaca pode ter influência física nisso. Até passar do marco de uma hora de duração.
Quando os momentos de suspense começam, todas as propostas científicas e os contextos levantados são deixados de lado. Há até um diálogo em que eles discutem qual é a razão real para que sofram as punições que os perseguem, mas a preocupação racional termina quando todos os conflitos se resolvem com duas ações rápidas e anticlimáticas.
Simples assim, o filme não completa nada que começou. Daí surgem diversos problemas de incoerência, como a não explicação de por que essas assombrações acontecem apenas com eles. Especialmente em um mundo no qual a medicina traz de volta à vida inúmeras pessoas diariamente. É um fato comum que torna toda a premissa ilógica.
Há também sustos fáceis e previsíveis com que Oplev preenche as cenas de horror. Entre boas ideias, como um rosto que surge em uma cortina e um elevador que leva um personagem para o cenário em que cometeu um ato de maldade, o diretor coloca sons altos repentinos que até assustam, mas não servem à atmosfera construída.
A falta de personalidade é um mal comum ao resto da filmografia de Oplev, mas o diretor sabe conduzir atores. Desde Page (normalmente uma atriz eficiente), passando pelos verdadeiros protagonistas Diego Luna e Nina Dobrev, até os desconhecidos James Norton e Kiersey Clemons, todas as interpretações seguram as cenas e ajudam na condução da trama.
Pelo menos o original, que tem os mesmos problemas de roteiro, carrega em cada enquadramento a personalidade do diretor Joel Schumacher. O que não é, necessariamente, uma qualidade. Especialmente no caso do homem que viria a cometer Batman & Robin sete anos mais tarde.