Filmes sobre cachorros e as relações honestas entre esta espécie e a humana nunca saem de moda porque, de forma simples, nós amamos nossos companheiros de quatro patas. Entre as produções de Lasse Hallström sobre a temática (ele dirigiu Sempre ao Seu Lado e Quatro Vidas de um Cachorro), alguém teve a ideia de contar a história de como essa amizade começou.
Assim, 20 mil anos antes de cristo, Keda (Kodi Smit-McPhee), o filho do líder de uma tribo de humanos sai na primeira caçada com os adultos. Eles só podem fazer uma vez por ano em terras distantes por causa do intervalo fornecido pelo verão. O jovem se fere e é dado por morto, mas sobrevive e precisa voltar para casa com uma perna quebrada. No caminho, ele é atacado por lobos e consegue ferir um deles.
Quando ele sente simpatia pelo animal ferido, o salva e, aos poucos, os dois descobrem as vantagens de viverem juntos. O filme sugere ter sido o início da relação entre humanos e lobos, que evoluíram artificialmente para os nosso cachorros. Porém, a jornada dos dois personagens abraça abertamente a estrutura de produções como A Era do Gelo e O Regresso, com personagens que passam por perigos naturais para chegar a um local seguro.
Em termos de roteiro, o texto de Daniele Sebastian Wiedenhaupt se encaixa de forma esperta nessa proposta. Estabelece os detalhes da viagem de volta na viagem de ida com o pai de Keda, depois, no caminho com o lobo, cria os vínculos entre os dois. Então, começam os conflitos de ambos à medida em que avançam. Assim, a história se desenvolve em um ritmo compreensível.
Porém, há obstáculos demais no caminho dos dois. Em certo ponto, quando Keda e o lobo já determinaram que estão melhor juntos que separados, que têm mais chance de sobreviver quando trabalham em equipe e que o inverno está se fechando sobre eles, a produção ainda demora cerca de vinte minutos sem que a história se desenvolva mais. O que causa um cansaço.
Somado ao estilo de direção de Albert Hughes (um dos irmãos Hughes, responsáveis pela adaptação de Do Inferno e do apocalíptico O Livro de Eli), o ritmo sofre. Porque o diretor se dá ao trabalho de fazer com que toda cena tenha uma ambientação rica. Ao mesmo tempo em que ele consegue imagens lindas e, de fato, enquadramentos que contem a história, no final do filme, ele permite que a velocidade continue lenta, mesmo que o espectador já tenha se apegado à narrativa, justamente quando esta precisa ser mais rápida.
Junto com o diretor de fotografia Martin Gschlachct, Hughes faz com que o céu seja sempre uma fonte de luz forte para as cenas. Seja com o Sol em contraluz nos pores e nascimentos do astro, seja com raios entre nuvens, ou com estrelas na noite. Com isso, filmam a ação de perfil, o que leva o espectador a ver silhuetas da ação. O que remete a uma pintura rupestre e é belo.
Um dos destaques é a cena da imagem acima, quando Keda é jogado no abismo por um animal. A fotografia realça o drama da possível morte do protagonista. O que também auxilia nesse sentido é o ótimo trabalho de computação gráfica. Para garantir cenas que seriam impossíveis com um lobo real, ele é frequentemente substituído por uma versão digital que tem a mesma aparência da criatura filmada. O único problema é na movimentação, que não é natural. Mas não é suficiente para comprometer a experiência.
E Hughes talvez tenha feito o filme mais bonito em termos visuais da carreira dele. Ironicamente, um dos poucos que fez sem o irmão. No entanto, o desbunde técnico distrai de uma história que parece ter pouco a contar. Para os fãs de cachorros, porém, é um programa cheio.