Amazônia é um filme cuja análise é extremamente interessante dentro do cinema nacional atual. Lançamento da maior produtora de filmes do país na época em que filmes infantis estão deslanchando às dezenas nos cinemas, o filme é muito mais que apenas mais um filme Globo. Ao mesmo tempo, a produtora o reduz do que ele é em sua versão e proposta original.
Macaco Prego criado em cativeiro vai parar na floresta quando seu avião sofre um acidente. Ele precisa se adaptar ao ambiente para encontrar comida, escapar dos predadores e sobreviver em sua nova situação. O filme foi feito em coprodução do Brasil com a França. A Globo Filmes auxiliou nas captações nacionais enquanto os franceses deram toda uma qualidade técnica que a nossa grande produtora brasileira não possui.
O diretor francês Thierry Ragobert está acostumado a fazer documentários, mas faz um bom trabalho quando passa para a ficção. Sua experiência em filmar animais em seus habitats naturais foi essencial para o resultado final. Ele e sua equipe foram com os bichinhos até as locações reais e utilizaram de todo o seu conhecimento técnico para contar a história do roteiro original, escrito por Luiz Bolognesi (do fraco Uma História de Amor e Fúria). De acordo com a equipe técnica, os animais não foram expostos a situações forçadas do roteiro. Muito pelo contrário, baseado no comportamento natural deles, a história do filme foi se adaptando. Tanto o é que foi por causa da afinidade do protagonista com uma fêmea que a parte romântica do filme foi acrescentada.
Ragobert filmou Amazônia em 3D. E desta vez foi uma escolha acertada. Se os visuais incríveis das florestas e das matas já impressionam naturalmente, ganham ainda mais beleza e vida com a profundidade. O efeito estereoscópico faz com que as árvores pareçam maiores e o ambiente selvagem aparente ser mais rico e perigoso. Essa percepção ganha ainda mais com o apuro do diretor para capturar a beleza local. Diversos animais dão as caras na produção e aumentam o interesse na representação proposta pela produção.
Apenas imagine esse ambiente com um 3D bem feito.
Amazônia é feito para apresentar para as crianças diversos elementos sobre a fauna e a flora da região. Como fonte de conhecimento é riquíssimo. O problema é como o conhecimento é apresentado. A versão nacional recebeu um segundo tratamento de história. Basicamente, a história de Castanha na floresta foi contada por Ragobert através de seus planos cuidadosos dos animais e da montagem. Porém, na versão nacional, Castanha ganha a voz do Lúcio Mauro Filho e seu par, Gaia, a da Isabelle Drummond. E é justamente este o grande problema do filme.
José Roberto Toreto pode até ser um roteirista com uma carreira de respeito, porém sua abordagem sobre o material é expositiva demais. São dele os diálogos tolos e desnecessários entoados por Mauro Filho e por Drummond. Dá pra ver que, além das vozes em off, existe um filme compreensível. A forma como as falas são ditas e as palavras e frases são utilizadas reduz muito a faixa etária adequada para o filme.
Isabelle Drummond e Lúcio Mauro Filho. Equívocos para a produção.
Esse tratamento fica ainda pior quando a voz de Drummond sai dos auto falantes do cinema. Se Mauro Filho consegue empregar aos diálogos alguma credibilidade com seus tons quase ingênuos, a atriz global parece um robô dizendo as palavras de forma mecânica. De toda a sua interpretação vocal, só fica bom o momento em que ela promete para Castanha que vai ensinar para ele como fazer uma família. Mas esse momento serve mais para os homens adultos que para qualquer outra coisa relevante no filme.
Se o Amazônia original é bom, não dá para dizer, o texto e a dublagem nacional poluem a experiência e acabam estragando o que poderia ser uma experiência muito interessante. Algo como A Incrível Jornada na floresta amazônica. Infelizmente, Amazônia é um belo (pelo menos visualmente) filme francês escondido abaixo da infantilizada versão nacional. Porém, para os pais com filhos menores de cinco anos, Amazônia é um conteúdo muito interessante. Existem muitas informações culturais que podem ser consideradas importantes. A superexposição pode ser um problema para os adultos, mas não deve incomodar os pequenos.
FANTASTIC…