American Mary faz parte de uma linha que eu gosto muito. Filmes alternativos que brincam com conceitos um tanto quanto extremos para a sociedade atual. Sem contar, é claro, com submundo de crime, excesso de violência e gore, que também me divertem bastante. Porém, o que poderia ser um cult instantâneo, se perde na falta de foco das realizadoras.
Mary Mason (Isabelle) estuda medicina com o intuito de se tornar uma cirurgiã. Com falta de dinheiro, ela resolve se candidatar a uma vaga de stripper, mas a entrevista toma rumos inesperados quando ela salva um criminoso gravemente ferido. Isso a leva em uma jornada dentro de um submundo de cirurgias plásticas criminosas e um tantinho de vingança contra estupradores.
O filme se prontifica a cumprir duas funções. Primeiro, ser uma obra de terror em que o bizarro e o sanguinolento andam juntos. Depois, é um daqueles filmes sobre pessoas estranhas, que possuem vontades e interesses diferentes do habitual. As duas propostas são honestas e interessantes, mas as irmãs Soska, diretoras e roteiristas do filme, não conseguem equilibrar as duas. Principalmente porque uma é feita apenas para divertir, enquanto a outra busca alguma reflexão.
Um dos primeiros pedidos que Mary recebe é o de ajudar uma mulher a se parecer com uma boneca Barbie. Para isso, é preciso remover os mamilos e costurar a abertura vaginal. Apesar de saber que é um crime (principalmente por ainda não ser formada), a protagonista aceita sem questionar. À princípio parece ser apenas pelo dinheiro oferecido, mas aos poucos fica claro que Mary acredita que não há nada de errado em ajudar pessoas a ficar mais confortáveis com os próprios corpos e também porque ela começa a ficar fascinada com o tipo de trabalho cirúrgico que promove.
A discussão é muito atual. Em tempos em que a terceira onda do feminismo está em voga, ajudar pessoas que não se sentem confortáveis com os corpos não é, realmente, errado. Em certa cena, uma das pacientes de Mary diz: “Não acho justo que Deus decida como eu devo me parecer por fora”. A provocação é muito interessante. Entretanto, para que Mary entre nessa nova vida, ela primeiro tem que sentir interesse em se vingar de pessoas e criar algum nível de carnificina. Então, o caminho das transformações físicas se dá junto com muito niilismo vingativo. Ela se torna assassina e torturadora. Se questiona por isso, começa a ter distúrbios de personalidade até o final, que a pune quase gratuitamente. Essa punição revela que as realizadoras talvez achem que Mary estava errada tanto pela criminalidade quanto pela tentativa de ajudar pessoas de formas extremas.
Gosto muito da protagonista, Katharine Isabelle. E aparentemente a diretoras também. Ela está em diversos dos filmes delas e tem uma daquelas caras que você sabe que viu em algum lugar, mas não consegue lembrar onde. Infelizmente, ela precisa dizer alguns diálogos ilógicos que, com frequência, comprometem a interpretação.
As irmãs Soska na participação que fazem no filme.
O ritmo é lento porque a trama busca a reflexão, e não é adequado para um filme que também é sobre gore e violência. As irmãs Soska possuem um estilo visual interessante até, mas fica óbvio que não fizeram um mínimo de pesquisa sobre o mundo da medicina. Vale pelos exageros físicos que apresenta e questiona.
GERÔNIMOOOOOOOOO…
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