Mike Howell (Jesse Eisenberg) é um jovem viciado em drogas, com múltiplas passagens pela prisão, baixa auto-estima e dono de um emprego como vendedor de uma lojinha que quase nunca tem clientes. A única coisa boa da vida dele é a namorada Phoebe (Kristen Stewart). De repente, homens aparecem com a intenção de matá-lo e Mike inconscientemente consegue se defender apenas com as mãos vazias.
Em 2008, o ator/produtor Seth Rogen realizou o que ele descrevia como um filme de ação com maconheiros. Se o resultado ali era hilário, por mais que questionável, American Ultra parece seguir a mesma proposta, mas de forma contrária. O humor está ali, mas a qualidade técnica somada a uma trama séria de qualidade revelam um filme de outro nível.
O roteirista Max Landis, cuja carreira se resume a um filme que ninguém assistiu e ao ótimo Poder Sem Limites, repete a façanha da obra anterior. Começa com uma interessante apresentação a personagens que não são os típicos heróis, desenvolve a ação lentamente sem nunca perder a atenção e fecha com um grande clímax. Tudo isso sem a jornada dos personagens deixar de envolver.
Fotografia inventiva. Mike alucina em uma sala com luz negra.
Em grande parte porque os personagens são interessantes. Mike parece um zé ninguém sem futuro ou propósito. Seria fácil que ele se tornasse um prepotente irritante após descobrir as novas capacidades, mas Landis o faz sentir um misto de medo e tristeza. Medo pela Phoebe, que também está em perigo, e pela própria vida. Tristeza porque aos poucos ele percebe que o único motivo pelo qual a vida é tão vazia é que alguém determinou que ela fosse daquele jeito. Soma-se a isso o fato de que ele está constantemente sob a influência da maconha, que o deixa lento, confuso e com flashs estranhos sobre o passado. Existe uma vulnerabilidade tocante no personagem.
Também seria fácil fazer com que ele começasse a tagarelar feito um imbecil. Viraria uma metralhadora de piadas sem sentido. Mas a busca por lógica no protagonista lembra muito mais as tragédias do Jason Bourne que um disparate humorístico. O humor é mais pontual, espalhado através dos eventos da trama. Surge como uma vírgula hilária em meio a um momento tenso. Em uma cena, Mike e Phoebe são jogados para fora de uma estrada dentro de um carro. Acidentados em um automóvel de cabeça para baixo, ele solta um pequeno comentário inocente de rachar o bico.
O diretor Nima Nourizadeh fez apenas um filme antes deste, o excelente Projeto X. Havia uma expectativa de mais uma comédia inventiva. Sem contar com a primeira abordagem dele sem o limite da câmera de mão, Nourizadeh faz a diferença. Numa das primeiras cenas da produção, ele apresenta um problema de Mike com muita elegância. Landis coloca o casal em um aeroporto. Apesar de um voice-over super expositivo, não se sabe o que os dois fazem lá. Ele está no banheiro enquanto passa mal. Ela espera diante do portão de embarque enquanto mexe um dedo pelo lado de um passagem de forma nervosa. A passagem está desgastada pelo ato. De forma simples, sabe-se que ele tem problemas com viagens e ela quer muito sair dali, mas não pode por causa dele. O diretor usa de montagem rápida, com planos detalhes curtos que explicam as cenas. Conta a história, dita um ritmo mais acelerado que o comum sem perder a boa ambientação.
John Leguizamo faz o ótimo traficante que vende maconha para Mike.
Jesse Eisenberg é um ator subvalorizado. Capaz de expressar com poucos movimentos no rosto, ele interpreta bem o desespero contido de Mike a cada reviravolta. Na ação, porém, ele nunca convence. O jeito levemente encurvado para a frente e a cara de indiferença nas lutas o faz parecer inadequado aos golpes e movimentos que realiza. Já a Kristen Stewart está melhor justamente nesses momentos. Convence durante as cenas dramáticas, mas é quando tem que correr e atirar que parece mais correta. O Topher Grace dá o jeitão esnobe dele para o vilão Adrian, mas o excelente texto o impede de sair do ótimo tom da obra. O John Leguizamo e o Bill Pullman fazem duas ótimas pontas, mas o brilho vai para o eterno coadjuvante Walter Goggins. O personagem Laugher dele é interessantíssimo. Insano e sádico, ele também carrega uma dose pesada de tragédia. A interpretação dele sozinha é motivo para assistir ao filme.
Ao término, é como uma colega falou enquanto sorria depois da cabine: “Que surpresa boa”. American Ultra se vendeu como um pastelão com doses de ação estilizada, mas se revelou um suspense interessante que contém dois maconheiros como personagens centrais. Com dois bons realizadores de segunda viagem, o resultado é um respiro de novidade no circuito comercial saturado com as mesmas bobagens de sempre.
GERÔNIMOOOOOOOO…
3 comentários em “American Ultra: Armados e Alucinados (American Ultra – 2015)”