Por Zilta Marinho
Em Nenhum a Menos, filme chinês dirigido por Zhang Yimou e vencedor do festival de Veneza de melhor filme em 1999, Wei Minzhi, uma menina de 13 anos, é a única pessoa disponível para substituir o professor Gao, que entra de licença. Numa escola precária do interior da China, ela recebe uma missão: não perder nenhum aluno durante esse período. Trata-se de uma realidade também comum no Brasil. Dois países tão distantes e tão próximos ao mesmo tempo.
A narrativa aborda problemas de qualquer sala de aula em nosso país, como a precariedade de instalações e recursos, classes multiseriadas e alunos desatentos, sem apelar para clichês. Uma aluna é descoberta como atleta e segue para um centro de treinamento. Pouco depois, um dos garotos vai à cidade grande buscar trabalho e ajudar a mãe doente. Determinada a cumprir a meta de manter todos na escola, a menina/professora traça planos para que ele volte.
O que era um problema se transforma num projeto coletivo e, entre risos tímidos e canções patrióticas, a turma passa a estudar matemática e chinês em busca das melhores estratégias para conseguir recursos, localizar e trazer o colega de volta à escola.
Com cenários e figurinos simples, o filme encanta e emociona, ao mostrar que a determinação é um dos diferenciais dos empreendedores. Da pequena aldeia de Shuiquan, onde o professor Gao contava os pedaços de giz para conseguir escrever no quadro todos os dias, a tímida Wei Minzhi parte para a cidade grande.
Os tons terrosos das imagens iniciais são substituídos pelo colorido de cartazes, luzes, lugares e trajes urbanos. Em um percurso que transita entre a indiferença, a necessidade, a solidão e o abandono, a professora encontra solidariedade.
As caixas com giz colorido doadas por moradores da cidade grande são abertas com cuidado pelas crianças, e representam a chegada da abundância à precária escola. Contentes, estudantes reconhecem o esforço de Wei Minzhi, e logo passam a escrever no quadro palavras que julgam importantes para demonstrar progresso e felicidade.
Com artistas amadores, falas simples e cenários realistas, Nenhum a Menos emociona por meio da inocência expressa nos gestos dos personagens. A maneira criativa como os temas são abordados prende a atenção do espectador.