Tolstoi escreveu um livro que discute sobre a sociedade russa do final do sécuolo 19 através de dois romances paralelos. Joe Wright resolveu fazer ao seu modo. O resultado é beleza. Beleza e muita discussão ultrapassada.
Quando estreou nos cinemas com seu Orgulho e Preconceito, Wright fez uma comédia romântica. Simples assim. Mas se é só isso, porque é um livro tão importante da literatura inglesa? Porque no contexto político correto, até uma comédia romântica pode ser avançada, um discurso sobre liberdade, patriarcado e questões sociais. Nos contextos atuais, os discursos perdem seus sentidos.
É a mesma coisa aqui. Wright discute a sociedade russa do final do século 19 sem grande referência a questões atuais. Claro que algumas coisas se refletem com modelos políticos desse ou daquele país. Lá tem uma sociedade em questionamento crucial entre a vida no campo e a vida urbana. Se o êxodo rural valeria a pena. Ainda tem repercussão hoje em dia, mas não é mais tanto uma questão política quanto era naquele contexto.
Sobra então a trama sobre os casos amorosos e seus questionamentos morais. A personagem do título tem tudo o que imagina que poderia querer, mas não é o bastante para mantê-la afastada de um oficial do exército por quem se apaixona. Para sustentar o recém descoberto amor, coloca a vida pessoal, do marido, um influente e honrado ministro do país, e a proximidade com o filho em risco.
O questionamento vai crescendo aos poucos. Até onde o pai traído pode afastar o filho da mãe? Qual o direito que tem para deixar pessoas que lhe fizeram mal sofrer? Qual o limite para a liberdade de uma mulher que arriscou tanto os outros por um sentimento? Quem pode dizer o que é certo e o que é errado?
Anna resolve correr todos os riscos porque descobriu o amor. Fica então a dúvida sobre quais os limites entre o amor e a retidão. Até onde podemos arriscar a felicidade dos outros por proveito pessoal?
O Aaron Taylor-Johnson e a Keira Knightley não convencem como um casal que se amou na primeira troca de olhares, por mais que se esforcem em seus papéis. Ao contrário, o casal coadjuvante Levin e Kitty chama muito mais a atenção com muito menos tempo de tela. Os dois parecem feitos um para o outro. E o filme fica mais lento sempre que eles não são o foco.
Não que o filme seja ruim sem eles. Wright ainda é um diretor maravilhoso. Enquadramentos elaborados e lindos enchem a tela constantemente. O estilo segue mais ou menos o mesmo. Elaboração de cenas complexas, com planos longíssimos. Desta vez, indo ainda mais longe que em seus filmes anteriores. Em um único plano ocorre transição de local e tempo sem corte ou mudança de cenário. Com diversos figurantes em cena e movimentação rápida. É algo incrível de se ver.
É um dos grandes diretores modernos, nada menos. Aqui ele ousa ainda mais ao colocar a história se passando em um teatro. Parece uma ideia idiota, mas ele faz isso de forma inteligente. Quando um personagem passa da burguesia para a camada mais pobre da sociedade, ele anda do palco suntuoso para o backstage, onde a população de classe mais baixa trabalha constantemente para manter o luxo dos outros em funcionamento.
A princípio me incomodei porque em alguns momentos a direção de arte parecia falsa demais. Tudo parecia irreal. Mas foi quando Levin volta para o campo que tudo se revelou. Quanto mais em cenário urbano, mais falsa e frágil a realidade. Quando mais rural, mas bonito e natural.
O elenco está afiado. Mas chamo atenção para o Jude Law como o marido traído. Que interpretação. Que personagem.
Enfim, um filmão com questionamentos interessantes, apesar da discussão social estar um pouco desatualizada.
GERÔNIMOOOOOOO…
Nossa concordo em vários pontos contigo.. Na vdd, acho que em todos! kkkk 😀
Adorei também o estilo, achei bem diferente! Não tinha reparado o que mencionasse do fato q na cidade é mais falso e no campo mais natural! Puta sacada! Adorei 🙂
Que bom que meu texto abriu espaço para reflexão. Também adorei o filme, caso não tenha deixado claro no texto.