Cinebiografias estão aí aos montes. Dentre elas, é difícil encontrar alguma que possua um roteiro relativamente bem estruturado. Quando uma biografia se foca em um conflito de vida específico e deixa de lado os dramas pontuais é quando ela se diferencia do lugar comum. Apenas uma Chance faz isso, mesmo sem se esforçar em ser um filme grandioso.
Paul Potts (Corden) é um Galês de classe baixa que ama óperas. Além de gostar de ouví-las, ele também se satisfaz com o canto do estilo. Porém, ele nunca se esforçou em sair do lugar comum para seguir carreira, até que conhece Julz (Roach). O romance entre os dois vai ser a chama que o fará se arriscar.
Potts se tornou conhecido após se inscrever na primeira edição do reality show de talentos Britain’s Got Talent. Quando aquele homem desajeitado e tímido subiu no palco com seu terno amarrotado, ninguém esperava pelo cantor que se revelaria para o mundo. Por algum motivo, alguém acreditou que a história dele daria um bom filme e eis que ele chega ao Brasil.
Quem quer que seja que acreditou nesta história, estava certo. O amor de Potts, se foi como é mostrado no filme, pela ópera é de uma beleza que impressiona. A melhor parte do filme é o quanto a história é envolvente e como o espectador consegue se simpatizar pelas dificuldades dele. Como com a maioria dos artistas, o desejo de Potts não é correspondido pela realidade. Vez atrás da outra ele é colocado para baixo e o roteiro faz um bom trabalho em mostrar situações nas quais Potts sofre por não poder cantar ou ter a ópera em sua vida.
O roteirista Justin Zackham focou a história do filme na jornada de Potts de um homem sem futuro até o sucesso que ele alcançou eventualmente. Entre reviravoltas dramáticas em sua vida como cantor, ele conhece a futura esposa e passa por inúmeras situações típicas do humor britânico. A estrutura é redondinha e nunca perde a atenção da carreira musical de Potts. Porém, existe um certo nível de maniqueísmo que incomoda muito. Seja o pai que nunca terá uma cena de boa vontade com o talento do filho ou o bully da infância de Potts que é um vilão para toda a vida dele. Da mesma forma, Potts é um poço de bondade, assim como as pessoas que o apoiam.
Potts pai e Potts filho. Relação atribulada.
David Frankel dirige de forma correta e sem expressividade. Ele não consegue acrescentar à produção com estilo pessoal, porém, permite que o roteiro funcione bem dando espaço para que os atores o interpretem com eficiência. Se tem algo que ele sabe fazer realmente é cuidar do ritmo cômico. As piadas se encaixam em cena com perfeição. Mesmo na cena mais boba e mal construída é possível rir.
O ator James Corden já vinha se revelando depois de roubar a cena nos dois episódios de Doctor Who nos quais apareceu. Dono de um carisma inconfundível, Corden consegue dar para sua versão de Potts toda a simpatia de um homem adoravelmente desajeitado. Infelizmente Corden não tem a voz potente de Potts e por isso mesmo foi dublado nas partes de canto pelo próprio. Mesmo que o verdadeiro Potts nunca apareça em cena, é ele quem o espectador ouve. Mas Corden faz um grande trabalho e parece de verdade que ele está cantando. Ele exprime esse desespero de uma pessoa que possui um amor por uma arte e que precisa dela para se sentir completo.
Roach e Corden. Carisma que sustenta o filme.
A desconhecida Alexandra Roach o acompanha sem esforço. Ela é tão adorável quanto ele. Não fosse a química e a empatia instantânea despertada por ambos, a parte romântica do filme não funcionaria. Não é à toa que é tão fácil torcer para a felicidade dos dois personagens. A Julie Walters está no elenco apenas para ser mais um nome atraente comercialmente, porque ela não tem muito o que fazer em cena e nem o faz de fato.
A história de Potts com o roteiro bem escrito de Zackham garante um filme bonito. Com direito a um final bastante emocionante. Principalmente para aqueles que sabem como é difícil se expressar de maneira artística, ver a última audiência da vida de Potts no Britain’s Got Talent é de fazer chorar.
FANTASTIC…
Se você se emocionou com a história de Paul Potts, não pode deixar de ler “Cidade Paraíso – uma história de ópera, fotos e rock´n´roll”, meu livro de estreia. Trata-se de uma obra de ficção inspirada no artista. No livro, conto a história de Café, um adolescente que vive numa favela carioca em processo de pacificação. Dotado de uma maravilhosa voz de tenor e inspirado em Paul Potts, seu grande ídolo, o jovem decide realizar algo muito especial: participar de um concurso de novos talentos de ópera nos Estados Unidos. Entretanto, o rapaz é tímido e não dispõe de condições financeiras para viajar a outro país. Por isso, ele pede ajuda a Diguinho, um amigo agitado que sempre quis comprar uma guitarra e formar uma banda cover do Guns N´ Roses, seu grupo de rock predileto. Sem dinheiro para suas pretensões, os dois resolvem improvisar com um inusitado trabalho fotográfico amador planejado de última hora. Os imprevistos não tardam a aparecer e a dupla acaba trilhando uma aventura divertida, movimentada e cheia de surpresas. O livro está disponível nos sites das livrarias Travessa e Cultura. Confira lá!