Em uma das épocas mais sombrias da Disney, uma série de animações passaram quase esquecidas. Nomes como Bernardo e Bianca, Oliver e Sua Turma, As Peripécias de um Ratinho Detetive e este Os Aristogatas são filmes que caíram no esquecimento. Resquícios de um período em que a criatividade do grande estúdio estava em baixa.
As desventuras da gata Duquesa, de origens ricas, que é sequestrada pelo mordomo da dona, Edgar, depois que ele descobre que a herança da chefe ficará para os felinos pode até ter um conceito inicial interessante. Abandonados longe de Paris, eles encontram no gato de rua Thomas O’Malley a ajuda necessária para reencontrar o lar.
A jornada cheia de animais excêntricos e piadas com trocadilhos às vezes espertos, às vezes bobos, nunca passa disso, uma série de encontros engraçadinhos. Os perigos e conflitos que normalmente tomariam conta de uma história do tipo não existem. Apenas quando faltam uns cinco minutos para o fim da duração, o vilão e os mocinhos realmente se confrontam. Antes, os perigos se resumem a leves enganos da filhote Marie, que hora cai em um rio, hora cai de um carro e por aí vai.
O incômodo real com Aristogatas é a sensação de que se vê algo como uma peça de teatro infantil, na qual as piadas ingênuas funcionam apenas para crianças. Isso se dá porque os diálogos são tão ingenuamente felizes que é ilógico. Os personagens acordam e já estão alegres para fazer até as atividades mais chatas e rotineiras. É quase como se todos estivessem sob o efeito de alguma droga. As piadas são todas com o mesmo nível de inocência. Crianças brincam e as pequenas birras entre elas se resolvem porque estão todos contentes. Não só é incômodo, como dá a impressão de que aquele universo é alguma espécie de inferno.
Os melhores momentos do filme se encontram nas cenas em que os realizadores abraçam o estilo de animação da concorrente, Warner Bros. Sempre que Edgar confronta animais, ele passa por momentos típicos do Coiote atrás do Papa-Léguas. Atravessa paredes, sobrevive a coisas impossíveis e por aí vai. Na maioria das vezes em situações que não acrescentam nada à narrativa, mas ainda gera boas risadas.
Tem uma cena musical legal na qual os estilos burgueses de Duquesa se misturam com a “malandragem” dos gatos de rua em forma de jazz. E é isso, um momento musical perdido no meio de um filme praticamente sem músicas.
É possível ver o estilo de desenho típico da época na Disney. Alguns movimentos não possuem a finalização de apagar traços depois da colorização. Também há o uso da técnica criada em 101 Dálmatas de usar máquinas de xerox para copiar animações antes da colorização. Isso resulta em personagens sem detalhes de luz e sombra, como a Disney passou a fazer em A Pequena Sereia anos depois.
Aristogatas é um dos filmes esquecíveis com a logo do Mickey Mouse por uma boa razão. Nas mãos de bons realizadores da história do estúdio seria uma grande aventura divertida. Ele tem três partes realmente boas e uma trama que não dá liga principalmente por causa de personagens não identificáveis.
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