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As Tartarugas Ninja (2014)

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Os anos 1990 estão tomando aos poucos o foco que os anos 1980 tinham na cultura pop. Talvez o maior expoente daquela época, As Tartarugas Ninja estão de volta com este novo filme. O nome por trás das câmeras que realmente merece ser notado é Michael Bay. Um dos piores diretores e produtores envolvidos com a indústria nos últimos tempos. Chegou a vez de Bay desconfigurar os quelônios mais queridos da ficção.

Nova Iorque se encontra sitiada com as ações de uma gangue conhecida como o Clã do Pé. Uma jovem repórter do canal 6, April O’Neil (Fox) descobre algumas pistas relacionadas ao grupo e acaba testemunhando um grupo de vigilantes que os está enfrentando. Eles são quatro tartarugas mutantes que ganharam condições humanoides e habilidades de ninja. Junto com elas, April vai descobrir um plano de escala global dos bandidos.
O quarteto com nomes de mestres do Renascimento é talvez um dos itens da cultura pop mais difíceis de ser levado ao cinema. A mídia exige um certo nível de contextualização que não dialoga bem com a ideia de quatro tartarugas adolescentes treinadas em ninjutsu por um sensei que é um rato. Se os quadrinhos originais são sérios demais e as animações são ingênuas e bobas, fazer um filme do grupo exigiria um equilíbrio muito complexo. É preciso ser bobo o suficiente para que não seja ridículo e sério o bastante para desculpar a interação com pessoas reais. Jonathan Liebesman é o nome colocado abaixo do título de direção, mas qualquer observador vai saber que o filme é de Bay.
Liebesman cria imagens com belas iluminações criadas pelo Sol, deixa que a mixagem de som lembre robôs gigantes se quebrando na porrada e sempre filma com contra-plongées e câmeras girando. Basicamente, a linguagem visual de Michael Bay. Ou seja, autoria ou capacidade narrativa são nulos. O que deixa a descoberta do diretor de fotografia brasileiro Lula Carvalho nos créditos finais muito triste.
O roteiro escrito a seis mãos começa inteligente, contando a história do ponto de vista da humana April O’Neil. À medida em que ela vai compreendendo o que são os vigilantes e a relação deles com o grupo de criminosos, o foco vai mudando dela para os quatro personagens que supostamente são os protagonistas. Porém, é aí que o texto começa a derrapar. No meio das investigações, ela descobre que as origens das tartarugas que sempre cruzam seu caminho acidentalmente numa das maiores cidades do mundo estão envolvidas com sua própria vida. Tudo com coincidências ridiculamente convenientes.

TEENAGE MUTANT NINJA TURTLESApril e ajudante. Inteligente apenas quando é útil.

Mais conveniente ainda é a inteligência de April. Em certo ponto, ela fala que passou quatro anos estudando jornalismo. Mas isso certamente não condiz com suas ações seguintes. Descobre uma pista para uma história e a apresenta para a editora chefe sem provas ou apuração. Depois, quando consegue provas e muitas explicações apropriadas, ela apresenta tudo isso para a editora com uma foto de uma tartaruga normal. Logicamente é tratada feito a imbecil que é. Mais tarde, porém, apresenta a mesma história para outro personagem, mas com provas que realmente fazem sentido desta vez. Apenas porque a inteligência do que deveria ser uma das maiores jornalistas daquele mundo só funciona quando é conveniente para o roteiro.
Tudo isso para que a contextualização de como quatro tartarugas e um rato chegaram àquelas condições não pareça forçada. E realmente, perdoando esses defeitos por conta do fato de que se trata de um filme infantil, o desenvolvimento até convence. Porém, a partir do momento em que os quatro heróis são apresentados, eles não conseguem tomar conta da história de forma alguma. Para dar destaque para eles, o roteiro os transforma em quatro alívios cômicos que lutam caratê. Não existe conflito entre os quatro, eles apenas são importantes para os objetivos megalomaníacos dos vilões e daí tem que sair correndo para salvar a cidade. Simples assim.
Porém, é preciso reconhecer. O roteiro é uma bolinha de clímax cheia de reviravoltas convenientes e sem sentido que servem ao ritmo. E esse ritmo é bom. De verdade. Ele vai escalando de um mistério até um grande confronto final. Temperado com as mil e uma piadas feitas exclusivamente para crianças, o filme é perfeito para os infantes. Ainda assim, não há um adulto que não se sinta incomodado com algumas piadas fora de lugar.

teenage-mutant-ninja-turtles-shredder-paramount-1Destruidor contra Splinter. Um dos poucos bons momentos do filme.

Os efeitos especiais são terrivelmente plásticos e irreais. Com cenas de ação de escalas tão grandes e mirabolantes que não passam de bobas. Porém, é preciso dizer que Liebesman faz esses momentos muito melhor que o Michael Bay. Mesmo que a ação seja boba e excessiva, ela não é confusa. O que é excelente nos momentos de luta ninja. Liebesman filma muito bem os dois momentos que são realmente bons. A cena em que o mestre Splinter luta contra o Destruidor e depois quando o vilão enfrenta as quatro tartarugas ao mesmo tempo. A construção do grupo como item de ação é acertada, mesmo que o roteiro não acerte na construção de personagens dramáticos.
A Megan Fox foi a escalação perfeita para essa April O’Neil descerebrada. Fox coloca sua inadequação expressiva para mostrar a repórter não processando as coisas que estão acontecendo ou que deve fazer. Will Arnet faz seu coadjuvante cômico com muitas piadas sem graça passando mais vergonha do que realmente interpretando. Nada muito diferente do que o péssimo comediante sempre fez. Além dos dois, tem ali no canto a Whoopie Goldberg não fazendo nada e o grande William Fichtner passando vergonha como braço direito do vilão que serve apenas para exposição de trama.
No final, Tartarugas Ninja é um grande filme para crianças. Mas não serve para as crianças interiores dos adultos que podem ir assistí-lo. É uma pena considerando que os personagens têm histórias muito boas que são esquecidas quando alguém se esforça em fazer um filme que se esforça demais para ser divertido.
 
fantastic…

3 comentários em “As Tartarugas Ninja (2014)

  1. Nossa, estou ancioso para ver o filme mais pelo histórico dos personagens do que por qualquer outro “ilusionismo de efeitos de hollywood”, mas agora fiquei com medo da decepção… kk
    Gostei muito do texto, vc mesmo que escreveu? Você me deixou ainda mais ancioso para ver o filme.. rs
    Depois que assisti volto aqui e deixo minhas impressões do filme.
    Abraço!

    1. Que bom que você gostou. Escrevi sim. Espero que o filme não o decepcione. Por mais que não tenha gostado, nunca desejaria uma sessão de cinema ruim para outra pessoa. Mas se não gostar, tente pelo menos se divertir com os problemas de lógica. Esse tem de sobra.
      Abraço!

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