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O Retorno de Skywalker (Star Wars: A Ascensão Skywalker – 2019)

Na longa e cara campanha de divulgação deste capítulo final da tal “saga Skywalker”, o roteirista Chris Terrio falou sobre as dificuldades de fazer o fim de jornada de 25 personagens em apenas um filme. Isso porque A Ascensão Skywalker tem uma missão que gera esse problema citado por ele, é preciso ser um ponto final de nove filmes, e não de apenas três com um quarteto de excelentes personagens que todo o mundo aprendeu a amar desde 2015.

É por isso que o filme, ao começar aproximadamente um ano depois dos eventos de Os Últimos Jedi, passa de uma cena de ação com muita correria para a próxima. Há muita coisa a ser resolvida no clímax, e para fazer com que todas as peças fiquem nas posições corretas até lá, Terrio e o corroteirista e diretor J. J. Abrams pisam no acelerador por cerca de uma hora e meia de filme.

Em uma cena de perseguição, aparece um personagem novo que dará a conclusão da jornada de alguém. Na outra, mais uma figura inédita. Tudo isso enquanto a trinca de protagonistas unidos, Rey (Daisy Ridley), Finn (John Boyega) e Poe Dameron (Oscar Isaac) seguem em uma missão com cenas mal ambientadas e montadas com desleixo. Como o filme também precisa ter uma duração aceitável para o mercado comercial, então sacrifica em ritmo no começo.

A jornada do trio principal junto é justamente a pior parte do filme.

Mesmo no corre-corre descontrolado da primeira metade do filme, é possível notar a incrível capacidade de Abrams na direção. Assim como em O Despertar da Força, também dirigido e coescrito por ele, o diretor faz cenas de ação que aproveitam do orçamento inflado para que a câmera viaje pelos cenários e pontue cada momento de um tiroteio ou de uma perseguição.

O que realça a impressão de que a montagem acelerada jogou fora inúmeros takes que ajudariam a entender cenas que terminam confusas. Levou quase toda a extensão de um perseguição em um deserto para perceber que os heróis haviam se separado em dois veículos diferentes. Mas, felizmente, quando o filme chega na metade e finalmente revela a que se presta, Abrams volta a acertar.

Isso porque ele foca justamente no que faz com que O Despertar da Força e Os Últimos Jedi sejam dois dos melhores filmes da década que se encerra na virada do mês: as jornadas e conflitos dos personagens. Terrio estava errado quando falou que precisava encerrar 25 histórias. O que faria deste capítulo uma conclusão poderosa seria dar um fim adequado para Rey, Finn, Poe Dameron e Kylo Ren/Ben Solo (Adam Driver).

Rey, num dos poucos momentos bem montados da primeira metade do filme.

Quando o filme chega no meio, os conflitos da luz e das sombras tanto em Kylo/Ben quanto em Rey se revelam. E como é bom ver Daisy Ridley e Adam Driver interpretarem esses momentos. Os personagens sofrem, tem personalidades complexas e é fácil torcer e querer um final adequado para as jornadas dos dois. Mas aí surge outro problema sério no erro de Terrio: fazer com que a peça para esse fim dos dois ocorra por meio do imperador Palpatine.

Então, ao invés de o filme ser sobre pessoas complexas e interessantes, com conflitos interiores ricos e identificáveis, o filme é sobre enfrentar uma encarnação de um mal maior que o mundo. O que não apenas diminui a qualidade aqui, como reduz muito do que foi construído nos dois filmes anteriores. Pelo menos, nessa reta final da jornada dos dois, Abrams volta a acertar também o ritmo e as entregas emocionais. Ou seja, o clímax tem acerto em texto, interpretação e direção.

Apenas com Ben e Rey.

Parece, de forma quase vergonhosa, que Terrio e Abrams rebaixam Finn e Poe a coadjuvantes do próprio filme que protagonizam. Dois personagens novos são adicionados ao batalhão de figurantes para que eles tenham algum tipo de conclusão que não satisfaz. Se o espectador analisar com cuidado, é possível ver que as jornadas anteriores deles não valem de nada aqui, e que os dois não mudam com os eventos da narrativa.

A jornada de Kylo Ren/Ben Solo é, de longe, a melhor parte do filme. E também a mais bem resolvida.

Para lidar com tanta coisa, os realizadores encheram o filme de brincadeiras e surpresas para agradar os fãs. Desde participações desnecessárias, como o Lando Calrissian (Billy Dee Williams) até brincadeiras com o C-3PO (o robô é, surpreendentemente, uma das melhores coisas da primeira metade do filme). Isso porque, depois das inúmeras, inteligentes e corajosas inovações de Os Últimos Jedi, Abrams já assumiu publicamente que teve medo de fazer algo que não agradasse aos fãs mais infantis.

Ademais, mantém-se o desbunde técnico, com excelente efeitos especiais que misturam computação com efeitos práticos. É difícil encontrar algo em qualquer cena que pareça falso ou não pertencer ao momento. O mesmo vale para o extraordinário de design de som, particularmente com efeitos de trovão. E a trilha sonora de John Williams pontua tudo maravilhosamente bem ao misturar os vários temas construídos através da série.

Apesar da qualidade técnica, o filme conta histórias demais em pouco tempo (e isso porque a projeção é de mais de duas horas). A Ascensão Skywalker passa a sensação de condensar material para três filmes em um só. Apenas para tentar satisfazer uma legião global de fãs com brincadeiras e clichês repetitivos, o que também deixa um gosto de covardia. É o Star Wars mais Star Wars da nova trilogia. E isso não é bom.

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