Há algo assustador na vida real. Algo que mexe com os nervos da população e faz com que milhares, talvez milhões, corram para TVs, jornais e internet para acompanhar notícias sobre assassinatos em massa e tragédias em lugares remotos. As pessoas se reúnem e mandam energias positivas de diversas formas para sobreviventes e vítimas.
Na mesma pegada, filmes como este Atentado ao Hotel Taj Mahal busca elucidar momentos cruciais de tais situações, e ainda levar o espectador para dentro dos eventos. Aqui, em específico, o público é levado ao hotel na Índia no dia em que vários locais de Mumbai foram atacados por terroristas.
Assim como a vida real, o objetivo do diretor Anthony Maras, junto com o co-roteirista John Collee, é fazer com que o horror tome conta dos cinemas. Não para acusar os terroristas, mas para mostrar todos os lados daquele dia, enquanto os funcionários do hotel tentavam salvar a vida dos hóspedes nas longas horas em que os extremistas rondavam os corredores do prédio.
Então a narrativa se divide em três núcleos principais: o garçom Arjun (Dev Patel), o casal mais rico Zahra (Nazanin Boniadi) e David (Armie Hammer), e os três terroristas. A escolha é fundamental para dar voz para todos os lados da história. Os algozes, apesar de assassinos e violentos, são vítimas de um sistema de lavagem cerebral. O funcionário serve de rosto para o bom serviço do hotel, cujos trabalhadores se colocavam na linha de frente para salvar os clientes.
Mas o mais interessante fica com o casal, formado por um americano casado e uma muçulmana rica. O que gera momentos que comentam sobre os preconceitos relacionados a esses atentados. Por ser dos Estados Unidos, ele vira um alvo fácil, enquanto ela é dada como terrorista por outros hóspedes apenas por causa da religião. Ao mesmo tempo, é o que permite, pela primeira vez, que os extremistas percebam que aqueles que matam também são humanos.
Nesse jogo esperto de diálogos e contextos para levantar essas questões, Maras e Collee, tratam toda a situação como um suspense bem orquestrado. É possível acompanhar, durante toda a projeção, onde estão todos os personagens, e os perigos em cada pedaço do caminho. Isso porque todas as partes do hotel são bem detalhadas.
Um grupo está preso no último andar, outro no restaurante abaixo, no meio do caminho há escadas principais e de emergência, além do saguão principal. Para complementar, Maras filma tudo com um estilo documental de câmera no ombro. As imagens tremem e sempre estão na altura dos personagens, o que faz com que o espectador se sinta no ambiente.
Assim, o momento em que o filme apresenta um massacre no lobby quando David tenta chegar ao quarto onde o filho bebê dorme, se torne ainda mais perturbador. O local, redondo, esconde alguns espaços atrás do balcão. Os que se encolhem lá para escapar se encolhem e tremem ao ouvir tiros próximo quando alguém mais morreu. E o público está lá, junto deles.
Outra característica técnica do filme que merece destaque é a direção de arte. Toda a ambientação da Índia é feita com esmero, mas além disso, os equipamentos usados pelos terroristas são cheios de detalhes técnicos que enriquecem os planos deles, mesmo que eles nunca precisem dizer nada.
Por fim, talvez o filme peque apenas por se afastar de comentários políticos sobre o evento. Mesmo que acerte por dar voz aos terroristas e não tratar eles como um mal absoluto, fica a impressão superficial de que os valores ocidentais são superiores e devem se destacar sobre os outros.
Mesmo que não fosse inspirado em fatos reais, já seria uma excelente sessão para quem busca apenas um suspense que segure a tensão do começo ao fim. Ganha ainda mais pontos por não seguir a cartilha fácil de bem e mal.