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Bad Boys Para Sempre (Bad Boys for Life – 2020)

Em 2002, quando o material de divulgação para Os Bad Boys 2 começaram a aparecer, a dúvida era: pra quê? E a resposta é simples e direta, Os Bad Boys, brincadeira com o subgênero de filmes de dupla de policiais no meio da comunidade negra e latina de Miami havia arrecadado mais de 100 milhões de dólares em 1995. O problema agora, com o lançamento do terceiro filme, é que a pergunta fica um pouco mais complexa.

Em tempos em que violência policial, homofobia, racismo e sexismo não são mais aceitos abertamente, os detetives Mike Lowrey (Will Smith) e Marcus Burnett (Martin Lawrence) estão ultrapassados. O primeiro tenta forçar os métodos antiquados em um mundo que não os querem mais, enquanto o segundo compreende as mudanças e está bem com a ideia de se adaptar a ser um avô de uma criança que crescerá nesses novos tempos.

Só pela sinopse já é possível notar grande parte dos acertos desta terceira aventura da dupla. Os realizadores compreendem que o comportamento violento dos dois, especialmente de Mike, não é adequado. É uma visão atualizada em cima dos personagens, e a trama aproveita para encaixar essas questões com a própria noção de envelhecimento tanto dos atores, quanto da franquia.

Marcus, com seu jeito familiar, serve de consciência para as mudanças dos dois.

O roteiro é direto. Um novo criminoso de Miami começa uma série de assassinatos e os dois detetives têm um envolvimento pessoal com ele. Porém, o que é um clichê se revela a desculpa necessária para a transformação dos personagens. Mike precisa entender de onde vem a raiva que o faz sair como um maníaco atrás de bandidos, enquanto Marcus precisa encontrar um equilíbrio entre a necessidade de paz na vida pessoal e a violência que combate diariamente.

Com isso, os roteiristas Chris Bremner, Peter Craig e Joe Carnahan não se limitam a imitar os filmes anteriores, mas crescem em cima deles. Mas sem deixar de homenagear ambos. Há referências desde o namoro de Mike com a irmã de Marcus, até o fato de que o capitão Howard (Joe Pantoliano) não sabe jogar basquete. E não termina aí. Os diretores Adil & Bilall, juntos com o diretor de fotografia Robrecht Heyvaert fazem inúmeras rimas visuais com os filmes anteriores.

Há enquadramentos como a imagem de uma aeronave sobre a placa de Miami, como a câmera giratória ao redor dos personagens enquanto os dois se levantam, e por aí vai. Mas o mais interessante é o uso de cores saturadas. A trilogia inteira é filmada com tanto contraste de imagem e saturação, que o céu de Miami varia de verde para laranja e rosa, mas nunca é azul.

Plano típico da trilogia. Os dois se levantam enquanto a câmera gira ao redor.

Para isso, Heyvaert usa de uma manipulação cuidadosa das imagens na pós-produção para que o equilíbrio de tonalidades não resulte em mudança de cor de pele como no primeiro filme, ou em imagens escuras demais como no segundo. Isso graças ao avanço da tecnologia entre os filmes, e ao bom gosto do diretor de fotografia. Além disso, o compositor Lorne Balfe retoma temas musicais nas cenas de ação.

O resultado é um filme que pertence ao universo dos dois originais, mas que também é superior a eles. Que respeita os personagens como eles nunca foram anteriormente. Que não perde qualidades do roteiro para dar espaço à estética dos diretores. Mas que, infelizmente, se rende ao poder de estrela de Will Smith em roubar o tempo de tela do parceiro Martin Lawrence. Justamente quando ele recebe, pela primeira vez, algo de interesse para fazer em tela, e o faz bem.

Dizer apenas que Bad Boys Para Sempre é o melhor filme da trilogia não faz jus a ele. Não quando ele dá continuidade a duas porcarias ultrapassadas. É preciso justificar o fato de que ele é o primeiro Bad Boys de qualidade, com boas cenas de ação, roteiro decente, personagens interessantes, boas interpretações e uma trama atual. Poderia ser um pouco mais bem dosado no ritmo, mas o quarto já foi confirmado. Tem espaço para melhorar.

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